Olá pessoal.
Conforme eu havia prometido, aqui está o e-mail que foi enviado a mim pelo professor Wilson Honório, historiador da USP, sobre o drama do Pinheirinho. Começo com esse texto, uma série de textos, escritos com mais assiduidade, depois de um ano de 2011 em que quase não tive tempo de me dedicar ao blog.
Relembrando que esse blog não é só destinado só aos espíritas. Eu e meu amigo Luiz abordamos espiritismo por sermos espíritas, mas principalmente, por acreditarmos que o espírita não deve se abster da vida política. Mas, também nos dirigimos à todos que, como nós, sabe da necessidade de se lutar por um mundo mais justos, em que as pessoas sejam mais amadas e respeitadas, como Jesus ensinou.
Dostoiévski disse que "inferno é o sofrimento de não poder mais amar". E quando agimos com indiferença em relação aos sofredores do mundo achando que não há "injustiçados", estamos julgando e praticando uma fé cega, e irracional, cegos pela indiferença e ignorância.
O e-mail abaixo é de um historiador respeitado, militante político, e que diz que chorou ao ver a realidade que os meios de comunicação não mostram.
Eu também chorei...
Compas. e amig@s,
A grande mídia tem sido parte fundamental da ocultação da verdade e das mentiras deslavadas que têm sido ditas e propagadas pelos tucanos Alckmin e Cury e toda o resto da corja responsável pelo massacre no Pinheirinho e atual situação dos moradores. Há, inclusive, uma nefasta campanha de criminalização dos moradores, com claro objetivo de provocar pânico na cidade.
Por isso mesmo, é fundamental que utilizemos dos nossos meios para divulgar a verdade. As matérias, vídeos e entrevistas em aúdio, abaixo, tem este objetivo. Retransmita-as da forma mais ampla possível. E, acima de tudo, mobilize o máximo de pessoas que puder para participar das atividades que estão sendo programadas (uma série de reuniões que ocorreram hoje, envolvendo vários movimentos sociais, preparou um calendário de atividades que começara a ser divulgado a partir de amanhã. Fiquem atentos(as).
Não poderia encerrar sem dizer que, hoje, depois de participar do ato em São José dos Campos (a matéria também será publicada no site), estive em uma igreja que tem servido de refúgio para cerca de mil moradores. O que vi é indiscritível. O local está cercado por pesados batalhões de choque. Todo o comércio da região está fechado (assim como a policia, de forma escandalosa, fez com que todo o comércio do centro de SJC fosse fechado enquanto realizávamos uma caminhada). Não há ônibus na região. Mulheres, crianças, jovens, idosos estão espalhados por todos lados, com pouquíssima água, comida cedida por entidades e sindicatos, nenhuma roupa além daquela que eles vestiam no momento em que foram arrancados e expulsos de suas casas deibaixo de tiros e bombas.
Ouvi dezenas de histórias de medo, de dor, sofrimento e perda. Cenas que fizeram até mesmo um dos cameraman de uma emissora que estava lá ter que interromper seu trabalho porque não conseguia conter as lágrimas. Para nós, que conhecemos muitas daquelas pessoas por termos estado lá ou tê-las encontrado em lutas tão diversas como a Parada LGBT de São Paulo, as portas de fábricas de São José ou as mobilizações populares e da juventude na região, a dor só não foi maior do que a revolta em ver aqueles lutadores e lutadoras num momento tão difícil. Gente que viu seus sonhos transformados repetinamente em um pesadelo que muitos deles só tinham visto pela TV, na Faixa de Gaza, nos campos de refugiados, nas zonas de guerras. Gente batalhadora que foi brutalmente vitimada pela ganância capitalista. Gente digna covardemente atacada por uma corja de burgueses (com e sem mandatos) e as instituições que eles criaram, sempre dispostas a marginalizar ou, sem pestanejar, matar quer quer for para assegurar as mordomias que este sistema lhes garante.
Contudo, assim como eu, tenho certeza que todos os que passaram por aquela igreja ou, há dias, têm estado ombro a ombro com os moradores, só podem pensar em uma coisa: redobrar, triplicar, multiplicar ao limite do impossível, os esforços para seguir na luta. De todas as formas possíveis e necessárias. Até que consigamos reverter esta história e devolver a moradia e a paz aos moradores do Pinheirinho. Não há como não ser profundamente tocado pela esperança que vi transparecer em olhares mergulhados em lágrimas, transtornados pela indignação e a revolta, mas ainda vibrantes em esperança e vontade de seguir na luta. Não há como pensar em fraquejar diante de gente que, mesmo com feridas expostas, faminta, com amigos e parentes desaparecidos e jogada ao relento, ainda encontra forças para seguir resistindo.
Acima de tudo, não há como não assumir o compromisso, com cada um deles, que nós, onde quer que estejamos, da forma que for possível, não os abandonaremos. Ao ver (ao vivo ou através das imagens que temos conseguido fazer atravessar o bloqueio da mídia) muitos daqueles que nós, orgulhosamente, chamamos de nosso "exército de brancaleones", como que caídos no campo de batalha, com suas tropas dispersas, mas ainda com forças para seguir lutando, nossa reação não pode ser outra: nos unirmos como um verdadeiro exército de indignados que os cerque de solidariedade (inclusive material, neste momento) e siga na luta para lhes devolver as conquistas que eles tiveram, com tanto sacrifício, nos últimos oito anos. É isto que eles merecem. É isto que lhes devemos.
E estejam certos, a batalha para que os moradors do Pinheirinho nào sejam despejados e resgatem suas vidas é apenas uma parte da luta para que um dia, da forma devida, vinguemos cada injustiça, cada lágrima, cada ferido ou morto que Cury, Alckmin e todos aqueles que se colocarem como cúmplices destes assassinos (inclusive aquelas e aqueles que hoje, no governo federal, têm mantido uma criminosa omissão diante desta tragédia).
Desculpem-me pela introdução/desabafo. Quem me conhece, sabe que não sou de deixar nós na garganta. O fundamental é que as notícias circulem e todos se engajem nas atividades que estão sendo programadas.
Abraços,
Wilson
Movimento Quilombo Raça e Classe
Secretaria de Negros e Negras do PSTU
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