A vida não reserva a ninguém cadeira cativa. Rei posto, rei deposto, a uns faz gosto, a outros, desgosto. César era imortal e, no entanto, pereceu. O Terceiro Reich duraria mil anos e não completou 20. Os esbirros da ditadura militar brasileira acreditavam que ela seria perpétua e, agora, temem a Comissão da Verdade.
Ressalto essa finitude humana a propósito das quedas, semana passada, de Ricardo Teixeira, após 23 anos na presidência da CBF; Romero Jucá, o “eterno” líder do governo no Congresso (serviu, como a mesma subserviente fidelidade, aos governos FHC, Lula e Dilma); e Cândido Vacarezza, líder do PT na Câmara dos Deputados.
Soma-se a essa dança das cadeiras a decisão do PR de romper com o governo Dilma e passar à oposição.
O Brasil é uma nação republicana que ainda não exorcizou sua alma monárquica. Há que lembrar que fomos um império! Razão pela qual Dom Pedro II causou tanto furor ao visitar os EUA em 1876. Os estadunidenses, acostumados a reis e rainhas da mãe-pátria Inglaterra, nunca tinham visto um imperador!
Perdemos a coroa, mas não a majestade. Ainda perduram em nossa cultura política feudos e donatários. Isso está impregnado na alma daqueles que, picados pela mosca azul, se julgam insubstituíveis nos cargos que ocupam. E se espantam e se queixam quando um poder mais forte do que o deles os remove da função que desempenham. Só então se dão conta de sofrerem da síndrome de Vargas: a identificação entre pessoa e função. Uma não vive sem a outra. Por isso o presidente Vargas preferiu atirar contra o próprio coração a deixar o Palácio do Catete como cidadão comum.
O caso do PR é de outra ordem na esquizofrenia política. Ele, como tantos outros partidos, se julga no direito de botar cerca e cadeado em torno de um ou mais ministérios.
Aliás, a culpa não é do PR por inebriar-se por tão alta pretensão. A culpa é da falta de reforma política e do modo como é costurada, hoje, a base de apoio ao governo. Não se exige consenso em torno de um Projeto Brasil. Não se requer afinidade ideológica. Não se priorizam pautas de um planejamento estratégico. Tudo é feito à base do toma lá, dá cá. Em moeda eleitoral. O governo quer votos; o aliado quer verbas e mais poder.
Como alertou Maquiavel, há procedimentos que dão poder, mas não glória. E num país que desde a ditadura ainda não recuperou sua autoestima política, não é de se estranhar que, em tempos de neoliberalismo, quando amealhar fortuna desponta como ideal de vida, haja tanta corrupção, nepotismo e maracutaias no jogo do poder.
Já que citamos Dom Pedro II, vale reproduzir o que escreveu ele em carta de 15 de janeiro de 1889: “A política de nossa terra, cada vez me repugna mais compreendê-la. Ambições e mais ambições do que tão pouco ambicionável é”.
E não há maestrina da Casa Civil para evitar que se repita, no jogo político, a canção de Tom Jobim e Newton Mendonça: “Quando eu vou cantar você não deixa ∕ E sempre vem a mesma queixa ∕ Diz que eu desafino, que eu não sei cantar ∕ Você é tão bonita, mas tua beleza também pode se enganar. ∕ Se você disser que eu desafino, amor ∕ Saiba que isso em mim provoca imensa dor...”
A dor de nutrir pretensões abusivas e acreditar que só os próprios ouvidos escutam a doce resposta positiva que, todas as manhã, é suscitada pela inquieta interrogação: “Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais lindo do que eu?”
Há poder e poder. Poder inerente ao cargo que se ocupa ou aos bens que se possui, e poder inerente ao caráter e∕ou carisma da pessoa. Esses últimos, infelizmente, são exceção. E como têm luz própria, não são satélites como a lua, que só brilha por refletir o sol, eles nos iluminam mesmo ao não estarem mais entre nós, como são os casos de Sócrates, Confúcio, Buda, os profetas do Antigo Testamento, Jesus, Francisco de Assis, José Martí e Che Guevara.
Todos eles abraçaram o poder – de seu carisma, de sua inteligência ou mesmo da função que ocuparam – como serviço imbuído de idealismo e calcado em princípios éticos e morais. Buscaram, não a própria glória, mas a dos outros, dispostos a dar a vida pela coerência assumida.
Este é uma opção ética da qual nenhum político foge, ainda que nem tenha consciência do quanto ela é inevitável: empoderar-se ou empoderar a coletividade. Os primeiros usam a democracia em benefício próprio. Os segundos a fortalecem e glorificam.
Frei Betto
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segunda-feira, 26 de março de 2012
quarta-feira, 21 de março de 2012
O Novo Fetiche!
A modernidade, período que se estendeu pelos últimos cinco séculos, está em crise. Vivemos, hoje, não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. No milênio que começa emerge algo imprecisamente chamado de pós-modernidade, que se insinua bem diferente de tudo o que nos antecedeu, imprimindo novo paradigma.
Na Idade Média, a cultura girava em torno da figura divina, na ideia de Deus. Na modernidade, centra-se no ser humano, na razão e em suas duas filhas diletas: a ciência e a tecnologia.
Um dos símbolos que melhor expressa esta passagem é a pintura de Michelangelo – A criação de Adão - no teto da Capela Sistina: Deus Pai, de barba longa, todo encoberto de mantos, representa o teocentrismo da época perante o homem desnudo, fortemente atraído para a Terra. O homem estende o dedo para não perder o contato com o transcendente, com o divino. A desnudez de Adão traduz o advento do antropocentrismo e a revolução que a modernidade representou em nossa cultura.
Episódio característico da modernidade ocorreu em 1682, quando mister Halley, baseado exclusivamente em cálculos matemáticos - pois não dispunha de instrumentos óticos -, previu que um cometa voltaria a aparecer nos céus de Londres dentro de 76 anos. Na ocasião, muitos o consideraram louco. Como, fechado em seu escritório, baseado em cálculos feitos no papel, poderia prever o movimento dos astros no céu? Quem, senão Deus, domina a abóbada celestial?”.
Mister Halley morreu em 1742, antes de se completarem os 76 anos previstos. Em 1758, o cometa, que hoje leva o seu nome, voltou a iluminar os céus de Londres. Era a glória da razão!
“Se é assim,” disseram, “se a razão é capaz de prever os movimentos dos astros como demonstraram Copérnico e Galileu - e depois Newton, um dos pilares da nossa cultura -, então ela haverá de resolver todos os dramas humanos! Porá fim ao sofrimento, à dor, à fome, à peste. Criará um mundo de luzes, progresso e felicidade!”
Cinco séculos depois, o saldo não é dos mais positivos. Muito pelo contrário. Os dados são da FAO: somos 7 bilhões de pessoas no planeta, das quais metade vive abaixo da faixa da pobreza, e 852 milhões sobrevivem com fome crônica.
Há quem afirme que o problema da fome é causado pelo excesso de bocas. Em função disso, propõe o controle da natalidade. Oponho-me ao controle, e sou favorável ao planejamento familiar. O primeiro é compulsório, o segundo respeita a liberdade do casal. E não aceito o argumento de que há bocas em demasia. Nem falta de alimentos. Segundo a FAO, o mundo produz o suficiente para alimentar 11 bilhões de bocas. O que há é falta de justiça, de partilha, e excessiva concentração da riqueza.
Por atravessarmos um período de muita insegurança, as pessoas buscam respostas fora do razoável. Observe-se, por exemplo, o fenômeno do esoterismo: nunca Deus esteve tão em voga como agora. Suscita paixões e fundamentalismos, a favor ou contra.
A crise da modernidade culmina no momento em que o sistema capitalista alcança a sua suprema hegemonia com o fim do socialismo, e adquire um novo caráter, chamado de neoliberal.
Quais as chaves de leitura dessa mudança do liberalismo para o neoliberalismo? Sob o liberalismo, falava-se muito em desenvolvimento. Na década de 1960, surgiu a teoria do desenvolvimento, que incluía também a noção de subdesenvolvimento; criou-se a Aliança para o Progresso, destinada a “desenvolver” a América Latina.
A palavra ‘desenvolvimento’ tem certo componente ético, porque ao menos se imagina que todos devem ser beneficiados. Hoje, o termo é ‘modernização’, que não tem conteúdo humano, mas sim forte conotação tecnológica. Modernizar é equipar-se tecnologicamente, competir, lograr que a minha empresa, a minha cidade, o meu país, aproximem-se do paradigma primeiro-mundista, ainda que isso signifique sacrifício para milhões de pessoas.
O Mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Outrora, pela manhã nossos avós consultavam a Bíblia. Nossos pais, o serviço de meteorologia. Hoje, consultam-se os índices do Mercado...
Diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas econômicos: “Vamos ver como o Mercado reage”. Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado em seu castelo e gritando pelo celular: “Não gostei da fala do ministro, estou irado.” E na mesma hora os telejornais destacam: “O Mercado não reagiu bem frente ao discurso ministerial”.
O mercado é, agora, internacional, globalizado, move-se segundo suas próprias regras, e não de acordo com as necessidades humanas. De fato, predomina a globocolonização, a imposição ao planeta do modelo anglo-saxônico de sociedade. Centrado no consumismo, na especulação, na transformação do mundo em cassino global.
Diante da crise financeira que afeta o capitalismo e, em especial, direitos sociais conquistados nos últimos dois séculos, é hora de se perguntar: qual será o paradigma da pós-modernidade? Mercado ou a “globalização da solidariedade”, na expressão do papa João Paulo II?
Frei Betto
Na Idade Média, a cultura girava em torno da figura divina, na ideia de Deus. Na modernidade, centra-se no ser humano, na razão e em suas duas filhas diletas: a ciência e a tecnologia.
Um dos símbolos que melhor expressa esta passagem é a pintura de Michelangelo – A criação de Adão - no teto da Capela Sistina: Deus Pai, de barba longa, todo encoberto de mantos, representa o teocentrismo da época perante o homem desnudo, fortemente atraído para a Terra. O homem estende o dedo para não perder o contato com o transcendente, com o divino. A desnudez de Adão traduz o advento do antropocentrismo e a revolução que a modernidade representou em nossa cultura.
Episódio característico da modernidade ocorreu em 1682, quando mister Halley, baseado exclusivamente em cálculos matemáticos - pois não dispunha de instrumentos óticos -, previu que um cometa voltaria a aparecer nos céus de Londres dentro de 76 anos. Na ocasião, muitos o consideraram louco. Como, fechado em seu escritório, baseado em cálculos feitos no papel, poderia prever o movimento dos astros no céu? Quem, senão Deus, domina a abóbada celestial?”.
Mister Halley morreu em 1742, antes de se completarem os 76 anos previstos. Em 1758, o cometa, que hoje leva o seu nome, voltou a iluminar os céus de Londres. Era a glória da razão!
“Se é assim,” disseram, “se a razão é capaz de prever os movimentos dos astros como demonstraram Copérnico e Galileu - e depois Newton, um dos pilares da nossa cultura -, então ela haverá de resolver todos os dramas humanos! Porá fim ao sofrimento, à dor, à fome, à peste. Criará um mundo de luzes, progresso e felicidade!”
Cinco séculos depois, o saldo não é dos mais positivos. Muito pelo contrário. Os dados são da FAO: somos 7 bilhões de pessoas no planeta, das quais metade vive abaixo da faixa da pobreza, e 852 milhões sobrevivem com fome crônica.
Há quem afirme que o problema da fome é causado pelo excesso de bocas. Em função disso, propõe o controle da natalidade. Oponho-me ao controle, e sou favorável ao planejamento familiar. O primeiro é compulsório, o segundo respeita a liberdade do casal. E não aceito o argumento de que há bocas em demasia. Nem falta de alimentos. Segundo a FAO, o mundo produz o suficiente para alimentar 11 bilhões de bocas. O que há é falta de justiça, de partilha, e excessiva concentração da riqueza.
Por atravessarmos um período de muita insegurança, as pessoas buscam respostas fora do razoável. Observe-se, por exemplo, o fenômeno do esoterismo: nunca Deus esteve tão em voga como agora. Suscita paixões e fundamentalismos, a favor ou contra.
A crise da modernidade culmina no momento em que o sistema capitalista alcança a sua suprema hegemonia com o fim do socialismo, e adquire um novo caráter, chamado de neoliberal.
Quais as chaves de leitura dessa mudança do liberalismo para o neoliberalismo? Sob o liberalismo, falava-se muito em desenvolvimento. Na década de 1960, surgiu a teoria do desenvolvimento, que incluía também a noção de subdesenvolvimento; criou-se a Aliança para o Progresso, destinada a “desenvolver” a América Latina.
A palavra ‘desenvolvimento’ tem certo componente ético, porque ao menos se imagina que todos devem ser beneficiados. Hoje, o termo é ‘modernização’, que não tem conteúdo humano, mas sim forte conotação tecnológica. Modernizar é equipar-se tecnologicamente, competir, lograr que a minha empresa, a minha cidade, o meu país, aproximem-se do paradigma primeiro-mundista, ainda que isso signifique sacrifício para milhões de pessoas.
O Mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Outrora, pela manhã nossos avós consultavam a Bíblia. Nossos pais, o serviço de meteorologia. Hoje, consultam-se os índices do Mercado...
Diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas econômicos: “Vamos ver como o Mercado reage”. Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado em seu castelo e gritando pelo celular: “Não gostei da fala do ministro, estou irado.” E na mesma hora os telejornais destacam: “O Mercado não reagiu bem frente ao discurso ministerial”.
O mercado é, agora, internacional, globalizado, move-se segundo suas próprias regras, e não de acordo com as necessidades humanas. De fato, predomina a globocolonização, a imposição ao planeta do modelo anglo-saxônico de sociedade. Centrado no consumismo, na especulação, na transformação do mundo em cassino global.
Diante da crise financeira que afeta o capitalismo e, em especial, direitos sociais conquistados nos últimos dois séculos, é hora de se perguntar: qual será o paradigma da pós-modernidade? Mercado ou a “globalização da solidariedade”, na expressão do papa João Paulo II?
Frei Betto
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Ditadura Economica
A pobreza já afeta 115 milhões de pessoas nos 27 países da União Europeia. Quase 25% da população. E ameaça mais 150 milhões de habitantes.
Na Espanha, a taxa de desemprego atinge 22,8%. Grécia e Itália encontram-se sob intervenção branca, governados por primeiros-ministros indicados pelo FMI. Irlanda e Portugal estão inadimplentes. Na Bélgica e no Reino Unido, manifestações de rua confirmam que “a festa acabou”.
Agora, o Banco Central da União Europeia quer nomear, para cada país em crise, um interventor de controle orçamentário. É a oficialização da ditadura econômica. Reino Unido e República Tcheca votaram contra. Porém, os outros 25 países da União Europeia aprovaram. Resta saber se a Grécia, o primeiro na lista da ditadura econômica, vai aceitar abrir mão de sua soberania e entregar suas contas ao controle externo.
A atual crise internacional é muito mais profunda. Não se resume à turbulência financeira. Está em crise um paradigma civilizatório centrado na crença de que pode haver crescimento econômico ilimitado num planeta de recursos infinitos… Esse paradigma identifica felicidade com riqueza; bem-estar com acumulação de bens materiais; progresso com consumismo.
Todas as dimensões da vida – nossa e do planeta – sofrem hoje acelerado processo de mercantilização. O capitalismo é o reino do desejo infinito atolado no paradoxo de se impor num planeta finito, com recursos naturais limitados e capacidade populacional restrita.
A lógica da acumulação é mais autoritária que todos os sistemas ditatoriais conhecidos ao longo da história. Ela ignora a diversidade cultural, a biodiversidade, e comete o grave erro de dividir a humanidade entre os que têm acesso aos recentes avanços da tecnociência, em especial biotecnologia e nanotecnologia, e os que não têm.
Daí seu efeito mais nefasto: a acumulação ou posse da riqueza em mãos de uns poucos se processa graças à desposessão e exclusão de muitos.
A questão não é saber se o capitalismo sairá ou não da enfermaria de Davos em condições de sobrevida, ainda que obrigado a ingerir remédios cada vez mais amargos, como suprimir a democracia e trocar o voto popular pelas agências de avaliação econômica, e os políticos por executivos financeiros, como ocorreu agora na Grécia e na Itália.
A questão é saber se a humanidade, como civilização, sobreviverá ao colapso de um sistema que associa cidadania com posse e civilização com paradigma consumista anglossaxônico.
Estamos às vésperas da Rio+20. E ninguém ignora que esta casa que habitamos, o planeta Terra, sofre alterações climáticas surpreendentes. Faz frio no verão e calor no inverno. Águas são contaminadas, florestas devastadas, alimentos envenenados por agrotóxicos e pesticidas.
O resultado são secas, inundações, perda da diversidade genética, solos desertificados… Há na comunidade científica consenso de que o efeito estufa e, portanto, o aquecimento global, resulta da ação deletérea do ser humano.
Todos os esforços para proteger a vida no planeta têm fracassado até agora. Em Durban, em dezembro de 2011, o máximo que se avançou foi a criação de um grupo de trabalho para negociar um novo acordo de redução do efeito estufa… a ser aprovado em 2015, e colocado em prática em 2020!
Enquanto isso, o Departamento de Energia dos EUA calculou que, em 2010, foram emitidas 564 milhões de toneladas de gases de aquecimento global. Isto é, 6% a mais do que no ano anterior.
Por que não se consegue avançar? Ora, a lógica mercantil impede. Basta dizer que os países do G8 propõem, não salvar a vida humana e do planeta, mas criar um mercado internacional de carbono ou energia suja, de modo a permitir aos países desenvolvidos comprar cotas de poluição não preenchidas por outros países pobres ou em desenvolvimento.
E o que a ONU tem a dizer? Nada, porque não consegue livrar-se da prisão ideológica da lógica do mercado. Propõe, portanto, à Rio+20 uma falácia chamada “Economia Verde”. Acredita que a saída reside em mecanismos de mercado e soluções tecnológicas, sem alterar as relações de poder, reduzir a desigualdade social e criar um mundo ambientalmente sustentável no qual todos tenham direito ao bem-estar.
Os donos e grandes beneficiários do sistema capitalista – 10% da população mundial – abocanham 84% da riqueza global e cultivam o dogma da imaculada concepção de que basta limar os dentes do tubarão para que ele deixe de ser agressivo…
Frei Betto
Na Espanha, a taxa de desemprego atinge 22,8%. Grécia e Itália encontram-se sob intervenção branca, governados por primeiros-ministros indicados pelo FMI. Irlanda e Portugal estão inadimplentes. Na Bélgica e no Reino Unido, manifestações de rua confirmam que “a festa acabou”.
Agora, o Banco Central da União Europeia quer nomear, para cada país em crise, um interventor de controle orçamentário. É a oficialização da ditadura econômica. Reino Unido e República Tcheca votaram contra. Porém, os outros 25 países da União Europeia aprovaram. Resta saber se a Grécia, o primeiro na lista da ditadura econômica, vai aceitar abrir mão de sua soberania e entregar suas contas ao controle externo.
A atual crise internacional é muito mais profunda. Não se resume à turbulência financeira. Está em crise um paradigma civilizatório centrado na crença de que pode haver crescimento econômico ilimitado num planeta de recursos infinitos… Esse paradigma identifica felicidade com riqueza; bem-estar com acumulação de bens materiais; progresso com consumismo.
Todas as dimensões da vida – nossa e do planeta – sofrem hoje acelerado processo de mercantilização. O capitalismo é o reino do desejo infinito atolado no paradoxo de se impor num planeta finito, com recursos naturais limitados e capacidade populacional restrita.
A lógica da acumulação é mais autoritária que todos os sistemas ditatoriais conhecidos ao longo da história. Ela ignora a diversidade cultural, a biodiversidade, e comete o grave erro de dividir a humanidade entre os que têm acesso aos recentes avanços da tecnociência, em especial biotecnologia e nanotecnologia, e os que não têm.
Daí seu efeito mais nefasto: a acumulação ou posse da riqueza em mãos de uns poucos se processa graças à desposessão e exclusão de muitos.
A questão não é saber se o capitalismo sairá ou não da enfermaria de Davos em condições de sobrevida, ainda que obrigado a ingerir remédios cada vez mais amargos, como suprimir a democracia e trocar o voto popular pelas agências de avaliação econômica, e os políticos por executivos financeiros, como ocorreu agora na Grécia e na Itália.
A questão é saber se a humanidade, como civilização, sobreviverá ao colapso de um sistema que associa cidadania com posse e civilização com paradigma consumista anglossaxônico.
Estamos às vésperas da Rio+20. E ninguém ignora que esta casa que habitamos, o planeta Terra, sofre alterações climáticas surpreendentes. Faz frio no verão e calor no inverno. Águas são contaminadas, florestas devastadas, alimentos envenenados por agrotóxicos e pesticidas.
O resultado são secas, inundações, perda da diversidade genética, solos desertificados… Há na comunidade científica consenso de que o efeito estufa e, portanto, o aquecimento global, resulta da ação deletérea do ser humano.
Todos os esforços para proteger a vida no planeta têm fracassado até agora. Em Durban, em dezembro de 2011, o máximo que se avançou foi a criação de um grupo de trabalho para negociar um novo acordo de redução do efeito estufa… a ser aprovado em 2015, e colocado em prática em 2020!
Enquanto isso, o Departamento de Energia dos EUA calculou que, em 2010, foram emitidas 564 milhões de toneladas de gases de aquecimento global. Isto é, 6% a mais do que no ano anterior.
Por que não se consegue avançar? Ora, a lógica mercantil impede. Basta dizer que os países do G8 propõem, não salvar a vida humana e do planeta, mas criar um mercado internacional de carbono ou energia suja, de modo a permitir aos países desenvolvidos comprar cotas de poluição não preenchidas por outros países pobres ou em desenvolvimento.
E o que a ONU tem a dizer? Nada, porque não consegue livrar-se da prisão ideológica da lógica do mercado. Propõe, portanto, à Rio+20 uma falácia chamada “Economia Verde”. Acredita que a saída reside em mecanismos de mercado e soluções tecnológicas, sem alterar as relações de poder, reduzir a desigualdade social e criar um mundo ambientalmente sustentável no qual todos tenham direito ao bem-estar.
Os donos e grandes beneficiários do sistema capitalista – 10% da população mundial – abocanham 84% da riqueza global e cultivam o dogma da imaculada concepção de que basta limar os dentes do tubarão para que ele deixe de ser agressivo…
Frei Betto
O ovo da serpente
Não é preciso ser economista para perceber a grave turbulência que afeta a economia globalizada. Se a locomotiva freia, todos os vagões se chocam, contidos em seu avanço. E o Brasil, apesar do PIB de US$ 2,5 trilhões, ainda é vagão...
Todo ano, desde 1980, cumpro a maratona de uma semana de palestras na Itália. Desde o início deste novo milênio eram evidentes os sintomas de que a próxima geração não desfrutará do mesmo nível de bem-estar dos últimos 20 anos. Nenhuma economia podia suportar tamanho consumismo e a monopolização crescente da riqueza. Agora, a realidade o comprova. A carruagem da Cinderela virou abóbora. A União Europeia patina no pântano...
Muitas são as causas da atual crise econômica. Apontá-las com precisão é tarefa dos economistas que não cultivam a religião da idolatria do mercado. Como leigo no assunto, arrisco o meu palpite.
Desde os anos 80, a especulação se descolou da produção. O mundo virou um cassino global. Sem passaporte e sem vistos, bilhões de dólares trafegam livremente, dia e noite, em busca de investimentos rentáveis. Enquanto o PIB do planeta é de US$ 62 trilhões, o cacife do cassino é de US$ 600 trilhões. A famosa bolha... Haja papel sem lastro!
A lógica do lucro supera a da qualidade de vida. A estabilidade dos mercados é, para os governos centrais, mais importante que a dos povos. Salvar moedas, e não vida humanas.
Todos sabemos como a prosperidade da Europa ocidental foi alcançada. Para se evitar o risco do comunismo, implantou-se o Estado de bem-estar social. Combinaram-se Estado provedor e direitos sociais. Reduziu-se a desigualdade social, e as famílias de trabalhadores passaram a ter acesso à escolaridade, assistência de saúde, carro e casa própria.
Em contrapartida, para não afetar a robustez do capital, desregularam-se as relações de trabalho, desativou-se a luta sindical, sepultou-se a esquerda. Tudo indicava que a prosperidade, que batia à porta, viera para ficar.
Não se deu a devida importância a um pequeno detalhe aritmético: se há duas galinhas para duas pessoas, e uma se apropria das duas, a outra fica a ver navios... E quando a fome bate, quem nada tem invade o espaço de quem muito acumulou.
Assim, os pobres do mundo, atraídos pelo novo Eldorado europeu, foram em busca de um lugar ao sol. Ótimo, a Europa, como os EUA, necessitava de quem, a baixo custo, limpasse privadas, cuidasse do jardim, lavasse carros...
A onda migratória viu-se reforçada pela queda do Muro de Berlim. A democracia política chegou ao Leste europeu desacompanhada da democracia econômica. Enquanto milhares tomaram o rumo de uma vida melhor no Ocidente, seus governos acreditaram que, para chegar ao Paraíso, era preciso ingressar na zona do euro.
A Europa entrou em colapso. A culpa é de quem? Ora, crime de colarinho branco não tem culpado. Quem foi punido pela crise usamericana em 2008? Os desmatadores do Brasil não estão sendo anistiados pelo novo Código Florestal?
Culpados existem. Todos, agora, se escondem sob a barra da saia do FMI. E nós, brasileiros, sabemos bem como este grande inquisidor da economia pune quem comete heresias financeiras: redução do investimento público; arrocho fiscal, desemprego, aumento de impostos, corte de direitos sociais, punição a países com déficit público etc.
O descaramento é tanto que o pacote do FMI inclui menos democracia e mais intervencionismo. Quando Papandréu, primeiro-ministro da Grécia, propôs um plebiscito para ouvir a voz do povo, o FMI vetou a proposta, depôs o homem e nomeou Papademos, um tecnocrata, para o seu lugar. Também o governo da Itália foi ocupado por um tecnocrata. Como se o fim da crise dependesse de uma solução contábil.
A história recente da Europa ensina que a crise social é o ovo da serpente – chocado pelo fascismo. Sobretudo quando a crise não é de um país, é de um continente. Não adiantam mobilizações em um país, é preciso que elas se expandam por toda a Europa. Mas como, se não existem sindicalismo combativo nem partidos progressistas?
As mobilizações tipo Ocupem Wall Street servem para denunciar, não para propor, se não houver um projeto político. Quem se queixa do presente e teme o futuro, corre o risco de se refugiar no passado – onde se abrigam os fantasmas de Hitler e Mussolini.
Frei Betto
Todo ano, desde 1980, cumpro a maratona de uma semana de palestras na Itália. Desde o início deste novo milênio eram evidentes os sintomas de que a próxima geração não desfrutará do mesmo nível de bem-estar dos últimos 20 anos. Nenhuma economia podia suportar tamanho consumismo e a monopolização crescente da riqueza. Agora, a realidade o comprova. A carruagem da Cinderela virou abóbora. A União Europeia patina no pântano...
Muitas são as causas da atual crise econômica. Apontá-las com precisão é tarefa dos economistas que não cultivam a religião da idolatria do mercado. Como leigo no assunto, arrisco o meu palpite.
Desde os anos 80, a especulação se descolou da produção. O mundo virou um cassino global. Sem passaporte e sem vistos, bilhões de dólares trafegam livremente, dia e noite, em busca de investimentos rentáveis. Enquanto o PIB do planeta é de US$ 62 trilhões, o cacife do cassino é de US$ 600 trilhões. A famosa bolha... Haja papel sem lastro!
A lógica do lucro supera a da qualidade de vida. A estabilidade dos mercados é, para os governos centrais, mais importante que a dos povos. Salvar moedas, e não vida humanas.
Todos sabemos como a prosperidade da Europa ocidental foi alcançada. Para se evitar o risco do comunismo, implantou-se o Estado de bem-estar social. Combinaram-se Estado provedor e direitos sociais. Reduziu-se a desigualdade social, e as famílias de trabalhadores passaram a ter acesso à escolaridade, assistência de saúde, carro e casa própria.
Em contrapartida, para não afetar a robustez do capital, desregularam-se as relações de trabalho, desativou-se a luta sindical, sepultou-se a esquerda. Tudo indicava que a prosperidade, que batia à porta, viera para ficar.
Não se deu a devida importância a um pequeno detalhe aritmético: se há duas galinhas para duas pessoas, e uma se apropria das duas, a outra fica a ver navios... E quando a fome bate, quem nada tem invade o espaço de quem muito acumulou.
Assim, os pobres do mundo, atraídos pelo novo Eldorado europeu, foram em busca de um lugar ao sol. Ótimo, a Europa, como os EUA, necessitava de quem, a baixo custo, limpasse privadas, cuidasse do jardim, lavasse carros...
A onda migratória viu-se reforçada pela queda do Muro de Berlim. A democracia política chegou ao Leste europeu desacompanhada da democracia econômica. Enquanto milhares tomaram o rumo de uma vida melhor no Ocidente, seus governos acreditaram que, para chegar ao Paraíso, era preciso ingressar na zona do euro.
A Europa entrou em colapso. A culpa é de quem? Ora, crime de colarinho branco não tem culpado. Quem foi punido pela crise usamericana em 2008? Os desmatadores do Brasil não estão sendo anistiados pelo novo Código Florestal?
Culpados existem. Todos, agora, se escondem sob a barra da saia do FMI. E nós, brasileiros, sabemos bem como este grande inquisidor da economia pune quem comete heresias financeiras: redução do investimento público; arrocho fiscal, desemprego, aumento de impostos, corte de direitos sociais, punição a países com déficit público etc.
O descaramento é tanto que o pacote do FMI inclui menos democracia e mais intervencionismo. Quando Papandréu, primeiro-ministro da Grécia, propôs um plebiscito para ouvir a voz do povo, o FMI vetou a proposta, depôs o homem e nomeou Papademos, um tecnocrata, para o seu lugar. Também o governo da Itália foi ocupado por um tecnocrata. Como se o fim da crise dependesse de uma solução contábil.
A história recente da Europa ensina que a crise social é o ovo da serpente – chocado pelo fascismo. Sobretudo quando a crise não é de um país, é de um continente. Não adiantam mobilizações em um país, é preciso que elas se expandam por toda a Europa. Mas como, se não existem sindicalismo combativo nem partidos progressistas?
As mobilizações tipo Ocupem Wall Street servem para denunciar, não para propor, se não houver um projeto político. Quem se queixa do presente e teme o futuro, corre o risco de se refugiar no passado – onde se abrigam os fantasmas de Hitler e Mussolini.
Frei Betto
PAUTA 2012
Olá pessoal.
Deixo aqui um texto de Frei Betto para analisarmos esse ano de 2012 de um ponto de vista crítico e consciente.
Abraço a todos.
Tudo indica que não teremos pela frente um ano fácil. A crise do capitalismo, que não é apenas financeira, mas estrutural, começa a afetar as economias emergentes, inclusive a do Brasil. Nada indica que os países da zona do euro vão deter a corrosão de suas economias e manter a mesma moeda.
Se a China, os EUA e a União Europeia reduzirem suas importações, o PIB brasileiro, que já chega ao patamar de R$ 4 trilhões (= US$ 2,5 trilhões) cairá junto com o crescimento do país. O governo Dilma dará tratos à bola para aquecer o mercado interno, segurar a inflação e favorecer o crédito. Tomara que consiga. Mas tudo indica que nessa viagem rumo ao desenvolvimento o Brasil enfrentará sérias turbulências.
Os próximos meses terão, como pauta prioritária, as eleições municipais de outubro. De novo, muita baixaria vai rolar... O importante é o eleitor não torcer o nariz para o processo eleitoral. Lembre-se: quem tem nojo de política é governado por quem não tem.
Deixo uma sugestão: faça uma lista de 10 prioridades que você e sua comunidade (associação, sindicato, ONG etc) consideram urgentes ao seu
município. Tire cópias. Toda vez que um candidato a prefeito ou vereador vier pedir voto, pergunte, sem mostrar a lista, se concorda com os 10
pontos. Se disser que sim, apresente a lista e exija que ele assine. Se não assinar, alerte os eleitores.
Para que os candidatos se comprometam com metas e prazos, consulte as propostas da Rede Nossa São Paulo:www.nossasaopaulo.org.br
Outro assunto que dominará o ano são as obras da COPA. Haja esforço para que terminem antes de a bola rolar e haja fiscalização para evitar (ou ao menos reduzir) a corrupção via superfaturamento!
Entre 4 e 6 de junho, o Brasil sediará o megaevento ambiental conhecido como Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável) vinte anos após a Eco 92, que reuniu líderes mundiais, inclusive Fidel Castro. A proposta de realização deste evento foi de Lula, em 2007.
A Eco 92 rendeu frutos importantes, como a Agenda 21, a Carta da Terra, e as convenções do Clima e da Biodiversidade.
A diplomacia brasileira terá de fazer muito esforço para trazer à Cidade Maravilhosa ao menos meia dúzia de chefes de Estado do G8, os países que governam o planeta. Isso porque o G8 está cada vez menos interessado em preservação ambiental, e mais em tirar suas nações da recessão.
Paralela à Rio+20 haverá a Cúpula dos Povos, que reunirá ONGs e empresas, universidades e associações, enfim, segmentos da sociedade civil
interessados na questão ambiental.
E atenção: o Calendário Maia termina em 2012. Há quem encare isso como anúncio do fim do mundo! Há quem afirme ser o início de novo ciclo cósmico! Não se afobe. Faça de 2012 o fim de tudo isso que reduz sua qualidade de vida e o início do que pode melhorá-la. Garanto que você terá um feliz ano novo!
Frei Betto
Deixo aqui um texto de Frei Betto para analisarmos esse ano de 2012 de um ponto de vista crítico e consciente.
Abraço a todos.
Tudo indica que não teremos pela frente um ano fácil. A crise do capitalismo, que não é apenas financeira, mas estrutural, começa a afetar as economias emergentes, inclusive a do Brasil. Nada indica que os países da zona do euro vão deter a corrosão de suas economias e manter a mesma moeda.
Se a China, os EUA e a União Europeia reduzirem suas importações, o PIB brasileiro, que já chega ao patamar de R$ 4 trilhões (= US$ 2,5 trilhões) cairá junto com o crescimento do país. O governo Dilma dará tratos à bola para aquecer o mercado interno, segurar a inflação e favorecer o crédito. Tomara que consiga. Mas tudo indica que nessa viagem rumo ao desenvolvimento o Brasil enfrentará sérias turbulências.
Os próximos meses terão, como pauta prioritária, as eleições municipais de outubro. De novo, muita baixaria vai rolar... O importante é o eleitor não torcer o nariz para o processo eleitoral. Lembre-se: quem tem nojo de política é governado por quem não tem.
Deixo uma sugestão: faça uma lista de 10 prioridades que você e sua comunidade (associação, sindicato, ONG etc) consideram urgentes ao seu
município. Tire cópias. Toda vez que um candidato a prefeito ou vereador vier pedir voto, pergunte, sem mostrar a lista, se concorda com os 10
pontos. Se disser que sim, apresente a lista e exija que ele assine. Se não assinar, alerte os eleitores.
Para que os candidatos se comprometam com metas e prazos, consulte as propostas da Rede Nossa São Paulo:www.nossasaopaulo.org.br
Outro assunto que dominará o ano são as obras da COPA. Haja esforço para que terminem antes de a bola rolar e haja fiscalização para evitar (ou ao menos reduzir) a corrupção via superfaturamento!
Entre 4 e 6 de junho, o Brasil sediará o megaevento ambiental conhecido como Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável) vinte anos após a Eco 92, que reuniu líderes mundiais, inclusive Fidel Castro. A proposta de realização deste evento foi de Lula, em 2007.
A Eco 92 rendeu frutos importantes, como a Agenda 21, a Carta da Terra, e as convenções do Clima e da Biodiversidade.
A diplomacia brasileira terá de fazer muito esforço para trazer à Cidade Maravilhosa ao menos meia dúzia de chefes de Estado do G8, os países que governam o planeta. Isso porque o G8 está cada vez menos interessado em preservação ambiental, e mais em tirar suas nações da recessão.
Paralela à Rio+20 haverá a Cúpula dos Povos, que reunirá ONGs e empresas, universidades e associações, enfim, segmentos da sociedade civil
interessados na questão ambiental.
E atenção: o Calendário Maia termina em 2012. Há quem encare isso como anúncio do fim do mundo! Há quem afirme ser o início de novo ciclo cósmico! Não se afobe. Faça de 2012 o fim de tudo isso que reduz sua qualidade de vida e o início do que pode melhorá-la. Garanto que você terá um feliz ano novo!
Frei Betto
sábado, 28 de janeiro de 2012
O drama do Pinheirinho
Olá pessoal.
Conforme eu havia prometido, aqui está o e-mail que foi enviado a mim pelo professor Wilson Honório, historiador da USP, sobre o drama do Pinheirinho. Começo com esse texto, uma série de textos, escritos com mais assiduidade, depois de um ano de 2011 em que quase não tive tempo de me dedicar ao blog.
Relembrando que esse blog não é só destinado só aos espíritas. Eu e meu amigo Luiz abordamos espiritismo por sermos espíritas, mas principalmente, por acreditarmos que o espírita não deve se abster da vida política. Mas, também nos dirigimos à todos que, como nós, sabe da necessidade de se lutar por um mundo mais justos, em que as pessoas sejam mais amadas e respeitadas, como Jesus ensinou.
Dostoiévski disse que "inferno é o sofrimento de não poder mais amar". E quando agimos com indiferença em relação aos sofredores do mundo achando que não há "injustiçados", estamos julgando e praticando uma fé cega, e irracional, cegos pela indiferença e ignorância.
O e-mail abaixo é de um historiador respeitado, militante político, e que diz que chorou ao ver a realidade que os meios de comunicação não mostram.
Eu também chorei...
Compas. e amig@s,
A grande mídia tem sido parte fundamental da ocultação da verdade e das mentiras deslavadas que têm sido ditas e propagadas pelos tucanos Alckmin e Cury e toda o resto da corja responsável pelo massacre no Pinheirinho e atual situação dos moradores. Há, inclusive, uma nefasta campanha de criminalização dos moradores, com claro objetivo de provocar pânico na cidade.
Por isso mesmo, é fundamental que utilizemos dos nossos meios para divulgar a verdade. As matérias, vídeos e entrevistas em aúdio, abaixo, tem este objetivo. Retransmita-as da forma mais ampla possível. E, acima de tudo, mobilize o máximo de pessoas que puder para participar das atividades que estão sendo programadas (uma série de reuniões que ocorreram hoje, envolvendo vários movimentos sociais, preparou um calendário de atividades que começara a ser divulgado a partir de amanhã. Fiquem atentos(as).
Não poderia encerrar sem dizer que, hoje, depois de participar do ato em São José dos Campos (a matéria também será publicada no site), estive em uma igreja que tem servido de refúgio para cerca de mil moradores. O que vi é indiscritível. O local está cercado por pesados batalhões de choque. Todo o comércio da região está fechado (assim como a policia, de forma escandalosa, fez com que todo o comércio do centro de SJC fosse fechado enquanto realizávamos uma caminhada). Não há ônibus na região. Mulheres, crianças, jovens, idosos estão espalhados por todos lados, com pouquíssima água, comida cedida por entidades e sindicatos, nenhuma roupa além daquela que eles vestiam no momento em que foram arrancados e expulsos de suas casas deibaixo de tiros e bombas.
Ouvi dezenas de histórias de medo, de dor, sofrimento e perda. Cenas que fizeram até mesmo um dos cameraman de uma emissora que estava lá ter que interromper seu trabalho porque não conseguia conter as lágrimas. Para nós, que conhecemos muitas daquelas pessoas por termos estado lá ou tê-las encontrado em lutas tão diversas como a Parada LGBT de São Paulo, as portas de fábricas de São José ou as mobilizações populares e da juventude na região, a dor só não foi maior do que a revolta em ver aqueles lutadores e lutadoras num momento tão difícil. Gente que viu seus sonhos transformados repetinamente em um pesadelo que muitos deles só tinham visto pela TV, na Faixa de Gaza, nos campos de refugiados, nas zonas de guerras. Gente batalhadora que foi brutalmente vitimada pela ganância capitalista. Gente digna covardemente atacada por uma corja de burgueses (com e sem mandatos) e as instituições que eles criaram, sempre dispostas a marginalizar ou, sem pestanejar, matar quer quer for para assegurar as mordomias que este sistema lhes garante.
Contudo, assim como eu, tenho certeza que todos os que passaram por aquela igreja ou, há dias, têm estado ombro a ombro com os moradores, só podem pensar em uma coisa: redobrar, triplicar, multiplicar ao limite do impossível, os esforços para seguir na luta. De todas as formas possíveis e necessárias. Até que consigamos reverter esta história e devolver a moradia e a paz aos moradores do Pinheirinho. Não há como não ser profundamente tocado pela esperança que vi transparecer em olhares mergulhados em lágrimas, transtornados pela indignação e a revolta, mas ainda vibrantes em esperança e vontade de seguir na luta. Não há como pensar em fraquejar diante de gente que, mesmo com feridas expostas, faminta, com amigos e parentes desaparecidos e jogada ao relento, ainda encontra forças para seguir resistindo.
Acima de tudo, não há como não assumir o compromisso, com cada um deles, que nós, onde quer que estejamos, da forma que for possível, não os abandonaremos. Ao ver (ao vivo ou através das imagens que temos conseguido fazer atravessar o bloqueio da mídia) muitos daqueles que nós, orgulhosamente, chamamos de nosso "exército de brancaleones", como que caídos no campo de batalha, com suas tropas dispersas, mas ainda com forças para seguir lutando, nossa reação não pode ser outra: nos unirmos como um verdadeiro exército de indignados que os cerque de solidariedade (inclusive material, neste momento) e siga na luta para lhes devolver as conquistas que eles tiveram, com tanto sacrifício, nos últimos oito anos. É isto que eles merecem. É isto que lhes devemos.
E estejam certos, a batalha para que os moradors do Pinheirinho nào sejam despejados e resgatem suas vidas é apenas uma parte da luta para que um dia, da forma devida, vinguemos cada injustiça, cada lágrima, cada ferido ou morto que Cury, Alckmin e todos aqueles que se colocarem como cúmplices destes assassinos (inclusive aquelas e aqueles que hoje, no governo federal, têm mantido uma criminosa omissão diante desta tragédia).
Desculpem-me pela introdução/desabafo. Quem me conhece, sabe que não sou de deixar nós na garganta. O fundamental é que as notícias circulem e todos se engajem nas atividades que estão sendo programadas.
Abraços,
Wilson
Movimento Quilombo Raça e Classe
Secretaria de Negros e Negras do PSTU
Conforme eu havia prometido, aqui está o e-mail que foi enviado a mim pelo professor Wilson Honório, historiador da USP, sobre o drama do Pinheirinho. Começo com esse texto, uma série de textos, escritos com mais assiduidade, depois de um ano de 2011 em que quase não tive tempo de me dedicar ao blog.
Relembrando que esse blog não é só destinado só aos espíritas. Eu e meu amigo Luiz abordamos espiritismo por sermos espíritas, mas principalmente, por acreditarmos que o espírita não deve se abster da vida política. Mas, também nos dirigimos à todos que, como nós, sabe da necessidade de se lutar por um mundo mais justos, em que as pessoas sejam mais amadas e respeitadas, como Jesus ensinou.
Dostoiévski disse que "inferno é o sofrimento de não poder mais amar". E quando agimos com indiferença em relação aos sofredores do mundo achando que não há "injustiçados", estamos julgando e praticando uma fé cega, e irracional, cegos pela indiferença e ignorância.
O e-mail abaixo é de um historiador respeitado, militante político, e que diz que chorou ao ver a realidade que os meios de comunicação não mostram.
Eu também chorei...
Compas. e amig@s,
A grande mídia tem sido parte fundamental da ocultação da verdade e das mentiras deslavadas que têm sido ditas e propagadas pelos tucanos Alckmin e Cury e toda o resto da corja responsável pelo massacre no Pinheirinho e atual situação dos moradores. Há, inclusive, uma nefasta campanha de criminalização dos moradores, com claro objetivo de provocar pânico na cidade.
Por isso mesmo, é fundamental que utilizemos dos nossos meios para divulgar a verdade. As matérias, vídeos e entrevistas em aúdio, abaixo, tem este objetivo. Retransmita-as da forma mais ampla possível. E, acima de tudo, mobilize o máximo de pessoas que puder para participar das atividades que estão sendo programadas (uma série de reuniões que ocorreram hoje, envolvendo vários movimentos sociais, preparou um calendário de atividades que começara a ser divulgado a partir de amanhã. Fiquem atentos(as).
Não poderia encerrar sem dizer que, hoje, depois de participar do ato em São José dos Campos (a matéria também será publicada no site), estive em uma igreja que tem servido de refúgio para cerca de mil moradores. O que vi é indiscritível. O local está cercado por pesados batalhões de choque. Todo o comércio da região está fechado (assim como a policia, de forma escandalosa, fez com que todo o comércio do centro de SJC fosse fechado enquanto realizávamos uma caminhada). Não há ônibus na região. Mulheres, crianças, jovens, idosos estão espalhados por todos lados, com pouquíssima água, comida cedida por entidades e sindicatos, nenhuma roupa além daquela que eles vestiam no momento em que foram arrancados e expulsos de suas casas deibaixo de tiros e bombas.
Ouvi dezenas de histórias de medo, de dor, sofrimento e perda. Cenas que fizeram até mesmo um dos cameraman de uma emissora que estava lá ter que interromper seu trabalho porque não conseguia conter as lágrimas. Para nós, que conhecemos muitas daquelas pessoas por termos estado lá ou tê-las encontrado em lutas tão diversas como a Parada LGBT de São Paulo, as portas de fábricas de São José ou as mobilizações populares e da juventude na região, a dor só não foi maior do que a revolta em ver aqueles lutadores e lutadoras num momento tão difícil. Gente que viu seus sonhos transformados repetinamente em um pesadelo que muitos deles só tinham visto pela TV, na Faixa de Gaza, nos campos de refugiados, nas zonas de guerras. Gente batalhadora que foi brutalmente vitimada pela ganância capitalista. Gente digna covardemente atacada por uma corja de burgueses (com e sem mandatos) e as instituições que eles criaram, sempre dispostas a marginalizar ou, sem pestanejar, matar quer quer for para assegurar as mordomias que este sistema lhes garante.
Contudo, assim como eu, tenho certeza que todos os que passaram por aquela igreja ou, há dias, têm estado ombro a ombro com os moradores, só podem pensar em uma coisa: redobrar, triplicar, multiplicar ao limite do impossível, os esforços para seguir na luta. De todas as formas possíveis e necessárias. Até que consigamos reverter esta história e devolver a moradia e a paz aos moradores do Pinheirinho. Não há como não ser profundamente tocado pela esperança que vi transparecer em olhares mergulhados em lágrimas, transtornados pela indignação e a revolta, mas ainda vibrantes em esperança e vontade de seguir na luta. Não há como pensar em fraquejar diante de gente que, mesmo com feridas expostas, faminta, com amigos e parentes desaparecidos e jogada ao relento, ainda encontra forças para seguir resistindo.
Acima de tudo, não há como não assumir o compromisso, com cada um deles, que nós, onde quer que estejamos, da forma que for possível, não os abandonaremos. Ao ver (ao vivo ou através das imagens que temos conseguido fazer atravessar o bloqueio da mídia) muitos daqueles que nós, orgulhosamente, chamamos de nosso "exército de brancaleones", como que caídos no campo de batalha, com suas tropas dispersas, mas ainda com forças para seguir lutando, nossa reação não pode ser outra: nos unirmos como um verdadeiro exército de indignados que os cerque de solidariedade (inclusive material, neste momento) e siga na luta para lhes devolver as conquistas que eles tiveram, com tanto sacrifício, nos últimos oito anos. É isto que eles merecem. É isto que lhes devemos.
E estejam certos, a batalha para que os moradors do Pinheirinho nào sejam despejados e resgatem suas vidas é apenas uma parte da luta para que um dia, da forma devida, vinguemos cada injustiça, cada lágrima, cada ferido ou morto que Cury, Alckmin e todos aqueles que se colocarem como cúmplices destes assassinos (inclusive aquelas e aqueles que hoje, no governo federal, têm mantido uma criminosa omissão diante desta tragédia).
Desculpem-me pela introdução/desabafo. Quem me conhece, sabe que não sou de deixar nós na garganta. O fundamental é que as notícias circulem e todos se engajem nas atividades que estão sendo programadas.
Abraços,
Wilson
Movimento Quilombo Raça e Classe
Secretaria de Negros e Negras do PSTU
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
ANTE A LIÇÃO
"Considera o que te digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo."
Paulo.
(II Timóteo, 2:7.)
Ante a exposição da verdade, não te esquives à meditação sobre as luzes que recebes.
Quem fita o céu de relance,sem contemplá-lo, não enxerga as estrelas; e quema sinfonia, sem abrir-lhe a acústica da alma, não lhe percebe as notas divinas.
Debalde escutarás a palavra inspirada de pregadores ardentes, se não descerrares o coração para que o teu sentimento mergulhe na claridade bendita daquela.
Inúmeros seguidores do Evangelho se queixam da incapacidade de retenção dos ensinos da Boa Nova, afirmando-se ineptos à frente das novas revelações, e isto porque não dispensaram maior trato à lição ouvida, demorando-se longo tempo na província da distração e da leviandade.
Quando a câmara permanece sombria, somos nós quem desata o ferrolho à janela pata que o sol nos visite.
Dediquemos algum esforço à graça da lição e a lição nos responderá com suas graças.
O apóstolo dos gentios é claro na observação.
"Considera o que te digo, porque, então, o Senhor te dará entendimento em tudo.
Considerar significa examinar, atender, refletir e apreciar.
Estejamos, pois, convencidos de que, prestando atenção aos apontamentos do Código da Vida Eterna, o Senhor, em retribuição à nossa boa vontade, dar-nos-á entendimento em tudo.
EMMANUEL (LIVRO FONTE VIVA)
Paulo.
(II Timóteo, 2:7.)
Ante a exposição da verdade, não te esquives à meditação sobre as luzes que recebes.
Quem fita o céu de relance,sem contemplá-lo, não enxerga as estrelas; e quema sinfonia, sem abrir-lhe a acústica da alma, não lhe percebe as notas divinas.
Debalde escutarás a palavra inspirada de pregadores ardentes, se não descerrares o coração para que o teu sentimento mergulhe na claridade bendita daquela.
Inúmeros seguidores do Evangelho se queixam da incapacidade de retenção dos ensinos da Boa Nova, afirmando-se ineptos à frente das novas revelações, e isto porque não dispensaram maior trato à lição ouvida, demorando-se longo tempo na província da distração e da leviandade.
Quando a câmara permanece sombria, somos nós quem desata o ferrolho à janela pata que o sol nos visite.
Dediquemos algum esforço à graça da lição e a lição nos responderá com suas graças.
O apóstolo dos gentios é claro na observação.
"Considera o que te digo, porque, então, o Senhor te dará entendimento em tudo.
Considerar significa examinar, atender, refletir e apreciar.
Estejamos, pois, convencidos de que, prestando atenção aos apontamentos do Código da Vida Eterna, o Senhor, em retribuição à nossa boa vontade, dar-nos-á entendimento em tudo.
EMMANUEL (LIVRO FONTE VIVA)
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Extremismo: Queda do Socialismo
Olá meus amigos.
Um aluno meu perguntou dias atrás porque o socialismo não deu certo? Bem, achei essa uma questão interessante e resolvi comentá-la aqui hoje.
Analisando atualmente o socialismo do leste europeu, que se difundiu pelo mundo depois da segunda guerra, sustentado pela URSS, eu diria que o socialismo que começou ali, liderado por Lênin, foi excessivamente pragmático, autoritário, ou seja, matou a fome de pão, porém, tirou a liberdade das pessoas, o que causou, creio eu, sua derrocada.
O capitalismo já atua de maneira contrária. Ele privatiza bens e serviços básicos necessários ao andamento de uma sociedade, mas socializa o sonho.
Segundo Mário Sérgio Cortella, existe uma diferença entre o essencial e o fundamental. Essencial seria tudo que não posso deixar de ser ou ter, como característica inerente ao meu ser, ou seja, minha sexualidade, lealdade, beleza, liberdade, entre outras coisas. O fundamental, é tudo aquilo que dá apoio, suporte ao essencial, como um bom trabalho seria fundamental para que eu exercesse minha liberdade, minha dignidade, minha autonomia etc.
Partindo desse ponto de vista, não é dificil perceber que o socialismo marxista do leste europeu resolveu as necessidades fundamentais, porém tirou das pessoas a liberdade, que é uma necessidade essencial do ser humano, pois não há quem não goste de ser livre, principalmente quando essa liberdade é tirada por um Estado autamente centralizador de poderes como a URSS Stalinista.
Bakunin, com seu anarquismo libertário, valorizou por sua vez a liberdade, mas como não conseguiu estruturar o anarquismo na mesma proporção que o marxismo, por isso o anarquismo não foi muito aceito pelas sociedades, e colocado como sinônimo de vandalismo pela sociedade burguesa.
O que se percebe é que existe tanto no anarquismo, quanto no marxismo, um extremismo prejudicial. O que acabou com o socialismo foi exatamente isso, o extremismo.
Hoje, quando me perguntam se sou anarquista ou marxista, respondo que sou humanista. Minhas preocupações sociais superaram a necessidade de me rotular politicamente. Reconheço a grandeza das teorias de Marx, mas também não abro mão da liberdade e da igualdade social pregada por Bakunin.
É preciso que os socialistas façam suas releituras, revejam seus métodos, e se questionem se realmente a ortodoxia política (uma política que não deu certo), seria realmente o melhor caminho.
Eu tenho mais afinidades atualmente com o anarquismo. Porém, me permito mudar de ideia se preciso for, e até mesmo de questionar Karl Marx ou Bakunin, Proudhon, entre outros se preciso, afinal, eu tenho autonomia de pensamento e o mundo atual não é o do século XIX, quando nasceram as teorias desses pensadores.
O importante é que eu não deixe de ser militante político, de divulgar minhas ideias, porque o capitalismo percebeu que enquanto a intelectualidade esquerdista perde tempo discuntindo a lealdade ortodoxa, eles socializam sonhos. Isso faz com que o cara que mora numa favela, mas que terá neste natal sua TV de plasma comprada em 72 vezes nas Casas Bahia, pense que esse sistema é justo, mesmo que dois terços da humanidade ainda passe fome, mas enfim, o sistema faz com que pensem que mudar não é a melhor opção. E o socialismo deu motivos para que a sociedade atual não o veja com bons olhos: a ditadura Stalinista, o socialismo estúpido que predomina na China, e prá piorar, a briga de foice entre os intelectuais comunistas, que tem gritado seus conhecimentos, mas agido pouco.
- Uilson Carlos
Um aluno meu perguntou dias atrás porque o socialismo não deu certo? Bem, achei essa uma questão interessante e resolvi comentá-la aqui hoje.
Analisando atualmente o socialismo do leste europeu, que se difundiu pelo mundo depois da segunda guerra, sustentado pela URSS, eu diria que o socialismo que começou ali, liderado por Lênin, foi excessivamente pragmático, autoritário, ou seja, matou a fome de pão, porém, tirou a liberdade das pessoas, o que causou, creio eu, sua derrocada.
O capitalismo já atua de maneira contrária. Ele privatiza bens e serviços básicos necessários ao andamento de uma sociedade, mas socializa o sonho.
Segundo Mário Sérgio Cortella, existe uma diferença entre o essencial e o fundamental. Essencial seria tudo que não posso deixar de ser ou ter, como característica inerente ao meu ser, ou seja, minha sexualidade, lealdade, beleza, liberdade, entre outras coisas. O fundamental, é tudo aquilo que dá apoio, suporte ao essencial, como um bom trabalho seria fundamental para que eu exercesse minha liberdade, minha dignidade, minha autonomia etc.
Partindo desse ponto de vista, não é dificil perceber que o socialismo marxista do leste europeu resolveu as necessidades fundamentais, porém tirou das pessoas a liberdade, que é uma necessidade essencial do ser humano, pois não há quem não goste de ser livre, principalmente quando essa liberdade é tirada por um Estado autamente centralizador de poderes como a URSS Stalinista.
Bakunin, com seu anarquismo libertário, valorizou por sua vez a liberdade, mas como não conseguiu estruturar o anarquismo na mesma proporção que o marxismo, por isso o anarquismo não foi muito aceito pelas sociedades, e colocado como sinônimo de vandalismo pela sociedade burguesa.
O que se percebe é que existe tanto no anarquismo, quanto no marxismo, um extremismo prejudicial. O que acabou com o socialismo foi exatamente isso, o extremismo.
Hoje, quando me perguntam se sou anarquista ou marxista, respondo que sou humanista. Minhas preocupações sociais superaram a necessidade de me rotular politicamente. Reconheço a grandeza das teorias de Marx, mas também não abro mão da liberdade e da igualdade social pregada por Bakunin.
É preciso que os socialistas façam suas releituras, revejam seus métodos, e se questionem se realmente a ortodoxia política (uma política que não deu certo), seria realmente o melhor caminho.
Eu tenho mais afinidades atualmente com o anarquismo. Porém, me permito mudar de ideia se preciso for, e até mesmo de questionar Karl Marx ou Bakunin, Proudhon, entre outros se preciso, afinal, eu tenho autonomia de pensamento e o mundo atual não é o do século XIX, quando nasceram as teorias desses pensadores.
O importante é que eu não deixe de ser militante político, de divulgar minhas ideias, porque o capitalismo percebeu que enquanto a intelectualidade esquerdista perde tempo discuntindo a lealdade ortodoxa, eles socializam sonhos. Isso faz com que o cara que mora numa favela, mas que terá neste natal sua TV de plasma comprada em 72 vezes nas Casas Bahia, pense que esse sistema é justo, mesmo que dois terços da humanidade ainda passe fome, mas enfim, o sistema faz com que pensem que mudar não é a melhor opção. E o socialismo deu motivos para que a sociedade atual não o veja com bons olhos: a ditadura Stalinista, o socialismo estúpido que predomina na China, e prá piorar, a briga de foice entre os intelectuais comunistas, que tem gritado seus conhecimentos, mas agido pouco.
- Uilson Carlos
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
A escola educa realmente? Qual o objetivo dessa "Educação"?
Olá Pessoal.
Diante do processo de sucateamento que a escola pública vem sofrendo por ser uma instituição de um governo sujeito às políticas neoliberais, essa semana conversei com um amigo sobre nosso papel como professores dentro de um sistema que se diz educacional.
As políticas neoliberais tem, num primeiro momento, um caráter de modernidade, mas é estranho ver a Direção de uma escola estadual da periferia de São Paulo, dizer que fizeram uma parceria com uma grande Editora de Livros, e, que a partir de 2012 essa mesma Editora vai fornecer livros para a escola. Não sei dizer se essa informação procede ou não, penso que seja apenas um boato, mas, caso seja verdade, isso demonstra uma característica neoliberal por parte do Estado que vai tirando cada vez mais de seus ombros, a responsabilidade de fornecer à sociedade com o fruto de seus impostos, os subsídios necessários ao desenvolvimento da mesma.
Há também um discurso que também passou a me incomodar muito, que é o que diz que professores são educadores, segundo os envolvidos na educação, sejam diretores, coordenadores ou até mesmo os professores. Mas, como professores que comem a comida que pegam na cantina no horário de intervalo e deixam os pratos sujos na sala dos professores para as funcionárias da cozinha pegarem, podem se dizer educadores de alguém? Esse é apenas um exemplo banal, diante de outros absurdos que acontecem nos bastidores de uma escola, seja ela pública ou privada.
A escola atual tem monopolizado o processo de educar crianças e adolescentes sendo que a própria Constituição diz que a obrigação de educar menores de idade, cabe primeiramente à família. Penso que, mesmo quando entramos num ônibus e vemos uma placa de proíbido fumar, já estamos sendo educados. E daí a escola tem lidado com crianças muitas vezes mal educadas, mas sem tomar providências nenhuma em muitos casos, como acontece na escola onde leciono, em que, como eu já me cansei de dizer, muitas vezes poderiam ao menos convocar os pais para uma conversa amistosa, não do tipo coercitiva, mas um diálogo construtivo, na medida do possível, para tentar resolver a indisciplina de algumas crianças, e, muitas vezes pior que a indisciplina, acontecem manifestações de violência, rebeldia, lascividade, entre outras coisas que a família não pode ignorar e muito menos querer ignorar.
Daí não há como não questionar, qual o meu, o nosso papel como professores dentro desse contexto. Somos educadores? Sim, muitos professores educam pelo caráter pessoal que é visto e analisado pelos alunos, pela sua dedicação, superação de obstáculos impostos até mesmo pela burocracia ou desmantelo da equipe escolar, para educar, aqueles que estão sujeitos a sua responsabilidade em ensinar.
No mundo globalizado e neoliberal, a escola forma ou deforma alunos? Porque eu mesmo já presenciei casos de amigos meus que eram pessoas pacatas, tranquilas, e que quando entraram para a escola, passaram a se enquadrar dentro desse contexto que na minha opinião só é possível graças ao descaso das autoridades e equipes gestoras das unidades escolares.
Se a escola forma alguém para alguma coisa, temos que pensar qual a natureza desse objetivo formador, pois penso que a escola só existe para formar mão de obra, e, pior, desqualificada e barata, pois oferece um ensino de péssimas condições não apenas pela incapacidade argumentada pela mídia e reprentantes do governo, em relação aos professores, mas também pela falta de possibilidades oferecidas pela escola para o desenvolvimento de um bom trabalho, como o fato de não existir um TV para que o professor apresente um vídeo, computadores funcionando para se formular provas ou fazer pesquisas, entre outros problemas.
E a grade curricular tem mostrado que, com o número excessivo de aulas de matemática em detrimento de filosofia, sociologia, história, enfim, têm-se formado apenas técnicos e não pessoas pensantes, com senso crítico, preparadas psicológica e intelectualmente para os problemas diversos da vida.
Eu já não entendo mais se a educação segue ideologias ou o pragmatismo econômico que não vê nas pessoas, humanos, mas talvez máquinas produtoras de riquezas que serão concentradas nas mãos de poucos.
Enfim, como tenho feito ultimamente, deixo a pergunta no ar. Temos formado mesmo pessoas dentro das escolas públicas? E com que objetivo? Se alguém puder me ajudar a entender o que se passa, agradeço.
Um abraço a todos.
- Uilson Carlos
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Aviso aos Professores!!!
Olá Pessoal.
Creio que todos já estejam sabendo, mas como o objetivo desse blog é, também, debater educação, devo avisar aos colegas que o Governo do Estado de São Paulo enviou uma Rede às escolas ordenando aos diretores verificarem se os professores não estouraram os limites de falta do período contratual.
O que está pegando, é que grande parte dos professores pensaram que suas faltas seriam zeradas no fim do ano, como acontece com professores efetivos, mas o governo quer demitir professores alegando que as faltas não são anuais, e sim durante todo o período de vigência do contrato. Sendo assim, professores de categoria O só podem ter: 2 abonadas, 2 justificadas, 1 injustificada e 6 faltas médicas. Licença Saúde até quinze dias é com a escola que o professor está assegurado, após esse período, vai para a Caixa.
Mas, como eu tenho um senso crítico que não me deixa ficar quieto diante das "sacanagens" da política, pergunto: Por que não avisaram os professores que as faltas do ano passado poderiam prejudicá-lo esse ano, no início do ano? e qual a razão de demitir professores em pleno mês de Agosto? Seria para não pagar 13º salário? Economizar dinheiro do Estado com trabalhadores para quê? Para guardá-los nas cuecas ou Parísos Fiscais? Mas talvez o que se passa na cabeça de nossos "Ilustríssimos" representantes seja: A CPI nos protege. Cria um escândalo que não tem mais fim, e quando acaba, o povo já se encheu e a gente permanece na impunidade.....A culpa é só deles?
- Uilson Carlos
Creio que todos já estejam sabendo, mas como o objetivo desse blog é, também, debater educação, devo avisar aos colegas que o Governo do Estado de São Paulo enviou uma Rede às escolas ordenando aos diretores verificarem se os professores não estouraram os limites de falta do período contratual.
O que está pegando, é que grande parte dos professores pensaram que suas faltas seriam zeradas no fim do ano, como acontece com professores efetivos, mas o governo quer demitir professores alegando que as faltas não são anuais, e sim durante todo o período de vigência do contrato. Sendo assim, professores de categoria O só podem ter: 2 abonadas, 2 justificadas, 1 injustificada e 6 faltas médicas. Licença Saúde até quinze dias é com a escola que o professor está assegurado, após esse período, vai para a Caixa.
Mas, como eu tenho um senso crítico que não me deixa ficar quieto diante das "sacanagens" da política, pergunto: Por que não avisaram os professores que as faltas do ano passado poderiam prejudicá-lo esse ano, no início do ano? e qual a razão de demitir professores em pleno mês de Agosto? Seria para não pagar 13º salário? Economizar dinheiro do Estado com trabalhadores para quê? Para guardá-los nas cuecas ou Parísos Fiscais? Mas talvez o que se passa na cabeça de nossos "Ilustríssimos" representantes seja: A CPI nos protege. Cria um escândalo que não tem mais fim, e quando acaba, o povo já se encheu e a gente permanece na impunidade.....A culpa é só deles?
- Uilson Carlos
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Terrorista louro de olhos azuis
Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.
A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.
Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.
Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.
O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.
Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.
Tão logo a notícia correu o mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.
A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. “Ele é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.
Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?
Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?
O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.
O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?
Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.
Frei Betto
A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.
Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.
Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.
O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.
Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.
Tão logo a notícia correu o mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.
A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. “Ele é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.
Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?
Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?
O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.
O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?
Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.
Frei Betto
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Paulo Freire, Karl Marx e Jesus Cristo
Olá pessoal, vou deixar prá vocês apenas uma frase. Leiam e reflitam, lembrando que o marxismo no objetivo final, é anarquista, pois ele quer acabar com o Estado burguês e proletário. As duas filosofias apenas diferem quanto ao métodos.
- Uilson Carlos
"...Quanto mais eu li Marx, mais eu encontrei uma fundametação objetiva para continuar camarada de Cristo..."
-Paulo Freire
PS: Dispensa comentários, remete às reflexões.
- Uilson Carlos
"...Quanto mais eu li Marx, mais eu encontrei uma fundametação objetiva para continuar camarada de Cristo..."
-Paulo Freire
PS: Dispensa comentários, remete às reflexões.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Brasil e Irã: um passo atrás
Por: Frei Betto
Ao visitar nosso país, Obama pediu à presidente Dilma que o Brasil assinasse, como co-autor, a resolução para o Conselho de Direitos Humanos da ONU investigar inúmeras denúncias de violações no Irã, atribuídas ao governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Proposta pela Casa Branca, a resolução foi aprovada em Genebra, na quinta, 24∕3, por 22 votos – inclusive o do Brasil -, 7 contra e 14 abstenções.
A posição do governo Dilma contraria a do governo Lula. Este jamais se submeteu a Washington em matéria de política externa. Em novembro do ano passado, o Brasil se absteve ao votar resolução da Assembléia Geral da ONU condenando desrespeito aos direitos humanos no Irã.
A embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, representante do nosso país no Conselho de Direitos Humanos da ONU, justificou seu voto, em nome do governo Dilma, alegando não se tratar de posição contrária ao Irã, e sim a favor dos direitos humanos. E negou ter sido barganha para o Brasil obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU – o que Dilma pediu a Obama e este respondeu apenas que ouvira com "apreço" e mais não disse...
Lula tinha duas razões para se abster de condenar o Irã. Entre os países árabes, é com a antiga Pérsia que o Brasil mantém maior fluxo comercial. Nos próximos cinco anos o intercâmbio entre os dois países pode atingir a elevada soma de US$ 10 bilhões.
A segunda razão é que Lula não vê moral no governo dos EUA para cobrar do Irã respeito aos direitos humanos e tentar impedir que o governo de Ahmadinejad faça uso pacífico da energia nuclear.
Por que EUA, Europa ocidental e Brasil podem fazê-lo e o Irã não? Porque as intenções deste país, diz a Casa Branca, são bélicas. Ao que Lula respondeu: Por que EUA, Israel, Índia, Paquistão e tantos países europeus podem ter armas nucleares e o Irã não? Ou se promove o desarmamento geral ou basta de cinismo...
Sou inteiramente a favor de se condenarem violações de direitos humanos no Irã, onde os adeptos da religião Bahá’i são duramente perseguidos e a pena de morte por apedrejamento é legal. Porém, o Brasil não pode adotar posições dúbias em sua política internacional.
Se o governo Dilma pretende pautar sua política externa pelo tema dos direitos humanos, deve exigir da ONU investigar o país que mais comete violações: os EUA. Que o digam os iraquianos e os afegãos.
Obama perdeu uma rara oportunidade de, em sua visita ao Brasil, Chile e El Salvador, pedir desculpas a essas nações pelas ditaduras nelas implantadas, graças à Casa Branca, nas décadas de 60 e 70. Todas patrocinadas pela CIA e armadas pelo Pentágono.
Foram milhares de presos, exilados, mortos e desaparecidos, sem que o governo dos EUA dissesse uma única palavra de censura aos generais brasileiros, a Pinochet e aos Esquadrões da Morte que, em El Salvador, assassinaram, em março de 1980, monsenhor Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, e seis padres jesuítas, em novembro de 1989.
A presidente Dilma teria falado com Obama – que usou o Brasil como púlpito para decretar guerra contra a Líbia – sobre os cinco cubanos injustamente presos nos EUA desde 1998?
Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, Ramon Labañino e René González viviam nos EUA para evitar atos terroristas contra Cuba, planejados em Miami. Graças aos cinco – cuja saga Fernando Morais descreve em livro a ser lançado nos próximos meses -, cerca de 200 ações terroristas foram abortadas. No entanto, continuam em liberdade nos EUA os terroristas treinados pela CIA e que, nas últimas décadas, cometeram 681 ações contra Cuba, causando a morte de 3.478 crianças, mulheres e homens, e lesões irreparáveis em 2.099 pessoas.
Usar a base naval de Guantánamo em Cuba como cárcere clandestino de supostos terroristas muçulmanos não é violar os direitos humanos? Cadê a promessa de Obama de fechar aquele antro de perversidades? Obama haverá de incriminar Bush que, em sua autobiografia, admite ter autorizado torturas contra suspeitos de terrorismo (ver denúncia do "Washington Post" de 15∕10∕2008)?
Obama destituirá das Forças Armadas os militares responsáveis por seqüestros de muçulmanos suspeitos de terrorismo, transportados em vôos clandestinos através de aeroportos europeus? Obama levará ao banco dos réus os culpados, nos EUA, pela prática de "waterboarding", que consiste em submeter prisioneiros à simulação de afogamento?
E com que cara o Brasil fala em direitos humanos em outros países se aqui ocorrem cerca de 40 mil assassinatos por ano; a Polícia Civil de São Paulo acusa grupos de extermínio formados por PMs de matar 150 pessoas entre 2006 e 2010 (61% sem antecedentes criminais); e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulga que há cerca de 25 mil pessoas em regime de trabalho escravo?
Bem questiona Jesus: "Como você se atreve a dizer ao irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco de seu olho’, quando você mesmo tem uma trave no seu" (Mateus 7, 4)?
Ao visitar nosso país, Obama pediu à presidente Dilma que o Brasil assinasse, como co-autor, a resolução para o Conselho de Direitos Humanos da ONU investigar inúmeras denúncias de violações no Irã, atribuídas ao governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Proposta pela Casa Branca, a resolução foi aprovada em Genebra, na quinta, 24∕3, por 22 votos – inclusive o do Brasil -, 7 contra e 14 abstenções.
A posição do governo Dilma contraria a do governo Lula. Este jamais se submeteu a Washington em matéria de política externa. Em novembro do ano passado, o Brasil se absteve ao votar resolução da Assembléia Geral da ONU condenando desrespeito aos direitos humanos no Irã.
A embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, representante do nosso país no Conselho de Direitos Humanos da ONU, justificou seu voto, em nome do governo Dilma, alegando não se tratar de posição contrária ao Irã, e sim a favor dos direitos humanos. E negou ter sido barganha para o Brasil obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU – o que Dilma pediu a Obama e este respondeu apenas que ouvira com "apreço" e mais não disse...
Lula tinha duas razões para se abster de condenar o Irã. Entre os países árabes, é com a antiga Pérsia que o Brasil mantém maior fluxo comercial. Nos próximos cinco anos o intercâmbio entre os dois países pode atingir a elevada soma de US$ 10 bilhões.
A segunda razão é que Lula não vê moral no governo dos EUA para cobrar do Irã respeito aos direitos humanos e tentar impedir que o governo de Ahmadinejad faça uso pacífico da energia nuclear.
Por que EUA, Europa ocidental e Brasil podem fazê-lo e o Irã não? Porque as intenções deste país, diz a Casa Branca, são bélicas. Ao que Lula respondeu: Por que EUA, Israel, Índia, Paquistão e tantos países europeus podem ter armas nucleares e o Irã não? Ou se promove o desarmamento geral ou basta de cinismo...
Sou inteiramente a favor de se condenarem violações de direitos humanos no Irã, onde os adeptos da religião Bahá’i são duramente perseguidos e a pena de morte por apedrejamento é legal. Porém, o Brasil não pode adotar posições dúbias em sua política internacional.
Se o governo Dilma pretende pautar sua política externa pelo tema dos direitos humanos, deve exigir da ONU investigar o país que mais comete violações: os EUA. Que o digam os iraquianos e os afegãos.
Obama perdeu uma rara oportunidade de, em sua visita ao Brasil, Chile e El Salvador, pedir desculpas a essas nações pelas ditaduras nelas implantadas, graças à Casa Branca, nas décadas de 60 e 70. Todas patrocinadas pela CIA e armadas pelo Pentágono.
Foram milhares de presos, exilados, mortos e desaparecidos, sem que o governo dos EUA dissesse uma única palavra de censura aos generais brasileiros, a Pinochet e aos Esquadrões da Morte que, em El Salvador, assassinaram, em março de 1980, monsenhor Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, e seis padres jesuítas, em novembro de 1989.
A presidente Dilma teria falado com Obama – que usou o Brasil como púlpito para decretar guerra contra a Líbia – sobre os cinco cubanos injustamente presos nos EUA desde 1998?
Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, Ramon Labañino e René González viviam nos EUA para evitar atos terroristas contra Cuba, planejados em Miami. Graças aos cinco – cuja saga Fernando Morais descreve em livro a ser lançado nos próximos meses -, cerca de 200 ações terroristas foram abortadas. No entanto, continuam em liberdade nos EUA os terroristas treinados pela CIA e que, nas últimas décadas, cometeram 681 ações contra Cuba, causando a morte de 3.478 crianças, mulheres e homens, e lesões irreparáveis em 2.099 pessoas.
Usar a base naval de Guantánamo em Cuba como cárcere clandestino de supostos terroristas muçulmanos não é violar os direitos humanos? Cadê a promessa de Obama de fechar aquele antro de perversidades? Obama haverá de incriminar Bush que, em sua autobiografia, admite ter autorizado torturas contra suspeitos de terrorismo (ver denúncia do "Washington Post" de 15∕10∕2008)?
Obama destituirá das Forças Armadas os militares responsáveis por seqüestros de muçulmanos suspeitos de terrorismo, transportados em vôos clandestinos através de aeroportos europeus? Obama levará ao banco dos réus os culpados, nos EUA, pela prática de "waterboarding", que consiste em submeter prisioneiros à simulação de afogamento?
E com que cara o Brasil fala em direitos humanos em outros países se aqui ocorrem cerca de 40 mil assassinatos por ano; a Polícia Civil de São Paulo acusa grupos de extermínio formados por PMs de matar 150 pessoas entre 2006 e 2010 (61% sem antecedentes criminais); e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulga que há cerca de 25 mil pessoas em regime de trabalho escravo?
Bem questiona Jesus: "Como você se atreve a dizer ao irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco de seu olho’, quando você mesmo tem uma trave no seu" (Mateus 7, 4)?
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Guerra dos lugares
Por: Milton Santos
Áreas inteiras do Brasil tem sido retiradas do controle do país.
Cada época tem suas verdades e cria os seus mitos. A época atual é, por definição, mitológica e dificulta o encontro da verdade.
O imperativo da exportação, sugerido a todos os países como uma espécie de solução salvadora, é uma verdade ou apenas um mito? Afirma-se, com muita força, que os países que não exportam não têm presente nem futuro, sem explicar cabalmente por quê. A doutrina é tão forte que, embora isso não seja sempre reconhecido, chega-se ao paroxismo de agir como se o próprio território devesse também ser exportado.
Comecemos pela definição de território, na verdade uma redefinição. Consideremos o território como o conjunto de sistemas naturais mais os acréscimos históricos materiais impostos pelo homem. Ele seria formado pelo conjunto indissociável do substrato físico, natural ou artificial, e mais o seu uso, ou, em outras palavras, a base técnica e mais as práticas sociais, isto é, uma combinação de técnica e de política. Os acréscimos são destinados a permitir, em cada época, uma nova modernização, que é sempre seletiva. Vejam-se os exemplos das ferrovias na segunda metade do século 19 e das infovias hoje.
A partir da constituição do Estado moderno, tudo isso era considerado como base da soberania nacional e da competição entre nações. O exemplo mais eloquente é o de Colbert, ministro de Luís 14, engenheiro, geógrafo, economista, estrategista e estadista, preocupado com o traçado das estradas e canais na velha França, base, ao mesmo tempo, do crescimento do país e da sua competição com os vizinhos e com a Inglaterra. O território, assim visto, constituía um dado essencial da regulação econômica e política, já que do seu manejo dependiam os volumes e os fluxos, os custos e os preços, a distribuição e o comércio, em uma palavra, a vida das empresas e o bem-estar das populações. Era por meio desses instrumentos incorporados ao território que o país criava sua unidade e funcionava como uma região do Estado. "Regio" tanto significa região quanto reger, governar.
Com a globalização, o território fica ainda mais importante, ainda que uma propaganda insidiosa teime em declarar que as fronteiras entre Estados já não funcionam e que tudo, ou quase, se desterritorializa. Na verdade, se o mundo tornou possível, com as técnicas contemporâneas, multiplicar a produtividade, somente o faz porque os lugares, conhecidos em sua realidade material e política, distinguem-se exatamente pela diferente capacidade de oferecer às empresas uma produtividade maior ou menor. É como se o chão, por meio das técnicas e das decisões políticas que incorpora, constituísse um verdadeiro depósito de fluxos de mais-valia, transferindo valor às firmas nele sediadas. A produtividade e a competitividade deixam de ser definidas devido apenas à estrutura interna de cada corporação e passam, também, a ser um atributo dos lugares. E cada lugar entra na contabilidade das empresas com diferente valor. A guerra fiscal é, na verdade, uma guerra global entre lugares.
Por isso, as maiores empresas elegem, em cada país, os pontos de seu interesse, exigindo, para que funcionem ainda melhor, o equipamento local e regional adequado e o aperfeiçoamento de suas ligações mediante elos materiais e informacionais modernos. Isso quanto às condições técnicas. Mas é também necessária uma adaptação política, mediante a adoção de normas e aportes financeiros, fiscais, trabalhistas etc. É a partir dessas alavancas que os lugares lutam entre si para atrair novos empreendimentos, os quais, entretanto, obedecem a lógicas globais que impõem aos lugares e países uma nova medida do valor, planetária e implacável. Tal uso preferencial do território por empresas globais acaba desvalorizando não apenas as áreas que ficam de fora do processo, mas também as demais empresas, excluídas das mesmas preferências.
Como as situações se alteram rápida, repetidamente e de forma inesperada, o território, sobretudo nas áreas mais afetadas pela modernidade globalizadora, torna-se instável, nervoso e, também, ingovernável. As crises territoriais revelam, brutalmente, as crises -nem sempre imediatamente percebidas- da economia, da sociedade e da política. O caso brasileiro ilustra de forma explícita essa entrega ao privado da regulação dos usos do território, sobretudo naquelas suas fatias, pontos e articulações essenciais. A privatização extrovertida das vias e meios de transporte e de comunicação agrava o conjunto de crises.
Importam-se empresas e exportam-se lugares. Impõe-se de fora do país o que deve ser a produção, a circulação e a distribuição dentro do país, anarquizando a divisão interna do trabalho com o reforço de uma divisão internacional do trabalho que determina como e o que produzir e exportar, de modo a manter desigualmente repartidos, na escala planetária, a produção, o emprego, a mais-valia, o poder econômico e político. Escolhem-se, também, pela mesma via, os lugares que devem ser objeto de ocupação privilegiada e de valorização, isto é, de exportação.
Não é simples metáfora dizer, a partir desse raciocínio, que está havendo uma entrega acelerada do território, já que o modelo econômico consagrado recusa ao país as ferramentas da sua regulação, pondo-as em mãos outras (geralmente estrangeiras), cujos projetos e objetivos podem ser inteiramente estranhos ou adversos ao interesse nacional. É desse modo que áreas inteiras permanecem nominalmente no território, fazendo parte do mapa do país, mas são retiradas do controle soberano da nação.
Áreas inteiras do Brasil tem sido retiradas do controle do país.
Cada época tem suas verdades e cria os seus mitos. A época atual é, por definição, mitológica e dificulta o encontro da verdade.
O imperativo da exportação, sugerido a todos os países como uma espécie de solução salvadora, é uma verdade ou apenas um mito? Afirma-se, com muita força, que os países que não exportam não têm presente nem futuro, sem explicar cabalmente por quê. A doutrina é tão forte que, embora isso não seja sempre reconhecido, chega-se ao paroxismo de agir como se o próprio território devesse também ser exportado.
Comecemos pela definição de território, na verdade uma redefinição. Consideremos o território como o conjunto de sistemas naturais mais os acréscimos históricos materiais impostos pelo homem. Ele seria formado pelo conjunto indissociável do substrato físico, natural ou artificial, e mais o seu uso, ou, em outras palavras, a base técnica e mais as práticas sociais, isto é, uma combinação de técnica e de política. Os acréscimos são destinados a permitir, em cada época, uma nova modernização, que é sempre seletiva. Vejam-se os exemplos das ferrovias na segunda metade do século 19 e das infovias hoje.
A partir da constituição do Estado moderno, tudo isso era considerado como base da soberania nacional e da competição entre nações. O exemplo mais eloquente é o de Colbert, ministro de Luís 14, engenheiro, geógrafo, economista, estrategista e estadista, preocupado com o traçado das estradas e canais na velha França, base, ao mesmo tempo, do crescimento do país e da sua competição com os vizinhos e com a Inglaterra. O território, assim visto, constituía um dado essencial da regulação econômica e política, já que do seu manejo dependiam os volumes e os fluxos, os custos e os preços, a distribuição e o comércio, em uma palavra, a vida das empresas e o bem-estar das populações. Era por meio desses instrumentos incorporados ao território que o país criava sua unidade e funcionava como uma região do Estado. "Regio" tanto significa região quanto reger, governar.
Com a globalização, o território fica ainda mais importante, ainda que uma propaganda insidiosa teime em declarar que as fronteiras entre Estados já não funcionam e que tudo, ou quase, se desterritorializa. Na verdade, se o mundo tornou possível, com as técnicas contemporâneas, multiplicar a produtividade, somente o faz porque os lugares, conhecidos em sua realidade material e política, distinguem-se exatamente pela diferente capacidade de oferecer às empresas uma produtividade maior ou menor. É como se o chão, por meio das técnicas e das decisões políticas que incorpora, constituísse um verdadeiro depósito de fluxos de mais-valia, transferindo valor às firmas nele sediadas. A produtividade e a competitividade deixam de ser definidas devido apenas à estrutura interna de cada corporação e passam, também, a ser um atributo dos lugares. E cada lugar entra na contabilidade das empresas com diferente valor. A guerra fiscal é, na verdade, uma guerra global entre lugares.
Por isso, as maiores empresas elegem, em cada país, os pontos de seu interesse, exigindo, para que funcionem ainda melhor, o equipamento local e regional adequado e o aperfeiçoamento de suas ligações mediante elos materiais e informacionais modernos. Isso quanto às condições técnicas. Mas é também necessária uma adaptação política, mediante a adoção de normas e aportes financeiros, fiscais, trabalhistas etc. É a partir dessas alavancas que os lugares lutam entre si para atrair novos empreendimentos, os quais, entretanto, obedecem a lógicas globais que impõem aos lugares e países uma nova medida do valor, planetária e implacável. Tal uso preferencial do território por empresas globais acaba desvalorizando não apenas as áreas que ficam de fora do processo, mas também as demais empresas, excluídas das mesmas preferências.
Como as situações se alteram rápida, repetidamente e de forma inesperada, o território, sobretudo nas áreas mais afetadas pela modernidade globalizadora, torna-se instável, nervoso e, também, ingovernável. As crises territoriais revelam, brutalmente, as crises -nem sempre imediatamente percebidas- da economia, da sociedade e da política. O caso brasileiro ilustra de forma explícita essa entrega ao privado da regulação dos usos do território, sobretudo naquelas suas fatias, pontos e articulações essenciais. A privatização extrovertida das vias e meios de transporte e de comunicação agrava o conjunto de crises.
Importam-se empresas e exportam-se lugares. Impõe-se de fora do país o que deve ser a produção, a circulação e a distribuição dentro do país, anarquizando a divisão interna do trabalho com o reforço de uma divisão internacional do trabalho que determina como e o que produzir e exportar, de modo a manter desigualmente repartidos, na escala planetária, a produção, o emprego, a mais-valia, o poder econômico e político. Escolhem-se, também, pela mesma via, os lugares que devem ser objeto de ocupação privilegiada e de valorização, isto é, de exportação.
Não é simples metáfora dizer, a partir desse raciocínio, que está havendo uma entrega acelerada do território, já que o modelo econômico consagrado recusa ao país as ferramentas da sua regulação, pondo-as em mãos outras (geralmente estrangeiras), cujos projetos e objetivos podem ser inteiramente estranhos ou adversos ao interesse nacional. É desse modo que áreas inteiras permanecem nominalmente no território, fazendo parte do mapa do país, mas são retiradas do controle soberano da nação.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Espíritas, Capitalismo vale a pena?
ESPÍRITAS, O CAPITALISMO VALE A PENA?
Olá pessoal.
Primeiramente é preciso dizer que Capitalismo possui como uma de suas características o Comércio, mas não se limita a isso. O Comércio existe há milênios na História da Humanidade, só que as relações comerciais do Capitalismo Moderno, adquiriram características inéditas, e eu diria, muitas vezes desumanas.
O Anarquismo prega uma divisão, socialização das riquezas entre os homens e defende a ideia de que todos tenham a possibilidade de adquirir os meios básicos de sobrevivência, que todos trabalhem, e que os bens básicos necessários à sociedade, não sejam propriedade privada. Eu por exemplo, considero que uma das características mais desumanas do Capitalismo, é a ampliação do desemprego, que impede o acesso do homem à luta por sua melhoria de vida, lhe enobrece.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 16 - Não se Pode Servir a Deus e a Mamon - um dos tópicos comentados pelos Espíritos diz respeito a questão da Riqueza. A Riqueza é um Mal? Não. Como Espírita e como Anarquista eu também concordo com esse argumento dos Espíritos. O que é um mal é sua concentração nas mãos de poucos, e isso muitas vezes conseguido de forma ilícita, baseado na exploração do homem pelo homem.
A Riqueza do ponto de vista espírita serve de estímulo ao ser encarnado, possibilita-lhe maiores oportunidades de servir, mas é uma prova muito mais perigosa do que a pobreza, porque o rico tem maiores oportunidades devido ao dinheiro fácil, de também errar.
Nesse mesmo tópico porém, há um comentário sobre a Desigualdade das Riquezas que os espíritos dizem que existe por que os homens, com seus diferentes graus de inteligência, suas diferentes moderações para conservá-la e adquiri-la, disposições diferentes para o labor, ou seja, o trabalho, nos leva a concluir que a
Riqueza induz ao trabalho e desenvolvimento, além de Econômico, também intelectual, moral, etc. Numa comparação com o anarquismo, vemos que também nesse ponto, não há divergências pois o anarquista quer a socialização da riqueza, e um espírita transformado pelos ideais de Jesus,realmente não vai querer se prender, guardar suas riquezas só prá si.
Não há diferença de pensamento entre o que pensamos como anarquistas, e o que prega o Evangelho Segundo o Espiritismo nesse Capítulo, porém, esse é um livro do Século XIX, e de lá para cá, o mundo sofreu diversas crises Econômicas e para superá-las o Capitalismo tomou medidas desumanas, fatores determinantes da desigualdade.
Como espírita, penso que devo pratica a Caridade sim, material, que tem um cunho mais assistencialista, moral, e nesse ponto da Caridade moral, penso que é muito complicado nos colocarmos à margem da atuação política, que não é atuação partidária. Não é também uma caridade lutar por aqueles que sofrem criticando, conscientizando e tentando mudar as estruturas de poder político e social?
E como anarquista digo que não é acabar com a Riqueza a proposta Anarquista/Comunista, mas acabar com a desigualdade através da socialização da riqueza, que pode ser suprida por Estados riquíssimos como os EUA, e no caso do Brasil em particular, que cresceu muito economicamente desde o governo Fernando Henrique, crescimento esse que não provocou melhorias humanas de fato, na vida dos brasileiros, tendo em vista que o número de pessoas abaixo da linha da pobreza no Brasil ainda é imenso, ou seja, não tem acesso àquilo que a Declaração Universal caracteriza como Direitos Humanos.
Será que só por que os brasileiros, desde 1994 quando houve a implantação do Real, até os dias de hoje, em que se tem mais possibilidade comprar carros, televisores importados, computadores, enfim, que a sociedade passou a ter mais acesso aos bens de consumo geralmente financiados em várias prestações com juros altíssimos, podemos falar em melhorias de vida? É ambígua essa questão, porque há sem dúvida uma melhoria no bem estar pessoal, provocado pela aquisição desses objetos, mas o que nós, anaquistas/espíritas, não concordamos, é que a sociedade não tem tido acesso aos Direitos Humanos que, como diz Frei Betto, às vezes nem se trata de humanos, mas de Direitos animais, como comer, ter um local para se abrigar do frio, uma moradia adequada, isso é coisa de bicho, de animal, e todos parecem esquecer inclusive que o homem é um animal e precisa dessas necessidades básicas que o Estado não cria.
O Estado que só se preocupa com o aspecto econômico, não age com mais eficácia para suprir o ser humano em suas necessidades básicas como já dissemos, e é para isso que o Estado existe. Se ele não faz o que lhe é devido, qual a necessidade da existência do Estado? Se não há porém, condições morais para que o ser humano viva numa sociedade sem governo, como argumentam alguns, não devemos ao menos exigir sua transformação? Pedir que os governantes façam prioritárias as verdadeiras necessidades sociais?
Há espíritas e cristãos de diversas outras religiões que pensam e afirmam que essa desigualdade acontece porque Deus quer. Vejamos: Se Deus é Onisciente como o próprio Espiritismo ensina, Ele certamente sempre soube que os homens iriam explorar uns aos outros com leis trabalhistas injustas, salários baixos que não permitem ao chefe de família manter os seus, entre outras características tristes desse sistema. Mas Deus nos deu o livre arbítrio, e a partir do momento em que há a possibilidade de mudança, da sociedade dizer um NÃO a esse sistema desumano, é mesmo a vontade de Deus ou vontade dos homens manter essa situação cômoda para poucos, e desconfortável para a maioria? Eu penso que Deus quis nos dar liberdade quando nos deu livre arbítrio. Sendo assim, se Deus nos deu a liberdade, por que aprisionamos pessoas através de sistemas econômicos injustos? Isso que vemos creio eu, não pode ser vontade de Deus. Seria um paradoxo imenso.
O Capitalismo atual criou Leis baseadas numa teoria chamada Liberalismo Econômico, que reduz o poder do Estado, ou seja, o Estado se sujeitou a ser ferramenta de poucos poderosos que sustentam seus governantes, - pois o Estado em sí, é sustentado principalmente pelos impostos pagos pelos pobres sem poder -, criando leis absurdas aos mais pobres e beneficiando os mais ricos, donos do poder, se tornando assim um instrumento de sofrimento para os pobres. Um exemplo disso é a atuação do Estado na expulsão dos manifestantes de frente da Prefeitura de São Paulo, que protestavam contra o aumento da passagem de ônibus, que foi muito maior que o nível da inflação. Houve sim, um estudante que se acorrentou nas catracas da Prefeitura, mas o que a Imprensa não diz é que começou uma manifestação em apoio aos estudantes do lado de fora, de cidadãos que apenas passavam por ali, e se identificaram com a causa.
Mas nós não pregamos a revolução armada, que fique bem claro, e sim a conscientização. Não pregamos a violência, mas sim uma ação pacífica, que já ocorreu na História, como Gandhi fez na Índia e a libertou do poder opressor da Inglaterra. Gandhi agiu como um anarquista, ele não obedeceu às leis do Estado que explorava seu povo. O que o Estado quer, em qualquer lugar do mundo, é nos fazer comprar suas mercadorias, aumentando assim o crescimento do PIB de cada país, depois de nos fazer acreditar nas suas ideologias. Mas quem ganha com o aumento do PIB se há concentração de renda e ausência de desenvolvimento social?
Quanto às ideologias, uma das coisas que considero um crime atualmente, é dizer por exemplo a uma criança, que ela tem que estudar para ser alguém na vida. O que é ser alguém nessa sociedade contemporânea? É alcançar státus social? E aqueles que não alcançam por diversos fatores, se transformam em quê? Há um discurso hipócrita, sustentado pelas ideologias defendidas pelo Estado, uma mudança de valores que foram corrompidos pelo sistema que faz a sociedade pensar que dentro do mundo globalizado, para ser alguém, tem que ser bem sucedido, ter o carro mais bonito, a roupa de marca, enfim, tudo que o Espiritismo nega em suas afirmações Evangélicas. Ou será que Jesus disse o contrário disso? Jesus não viveu ao lado dos pobres, valorizando assim, suas condições humanas, fazendo-os se sentirem o que realmente são, filhos de Deus tanto quanto os ricos? Jesus não mostrou com suas atitudes, que o poder do mundo, sua riqueza, seu luxo, eram transitórios?
É CONTRADITÓRIO O DISCURSO PROPOSTO PELO CAPITAL E A DOUTRINA ESPÍRITA. Sendo assim, volto a perguntar aos espíritas: É vontade de Deus mesmo? Ou vontade de empresários capitalistas bem sucedidos e interesseiros, que financiam os políticos?
Pensem. Porém, não se esqueçam de alguns princípios básicos: o Anarquismo que defendemos, a partir de uma concepção cristã, - pois não somos ortodoxos seguidores de Bakunin, Proudhon, ou qualquer outro pensador anarquista, fazemos nossas teoria depois de analisarmos muito do que foi proposto, como muitos fizeram por exemplo, com o marxismo - , não é contra a riqueza, mas quer a socialização das riquezas, pois a concentração de renda é que gera a pobreza, as grandes nações pregam o Sistema Capitalista como sendo Democrático, contrário às Ditaduras dos países Comunistas, que como espíritas não podemos negar, nem eu como historiador, mas os erros de Stálin por exemplo, que também é um filho desse mesmo Deus que nós espíritas acreditamos, não desvalorizam os ideais Anarquistas/Comunistas, assim como a traição de Judas, a negação de Pedro, não desmereceram o trabalho evangélico feito pelos mesmos apóstolos que negaram Jesus, após sua Crucificação.
Espíritas e cristãos de uma maneira geral, há muito o que se mudar, há muito o que se pensar, e aqueles que consideram essa questão esgotada, pela realidade efetiva das coisas, como diria Maquiavel, talvez esteja precisando rever conceitos, antes que se tornem "Pré-Conceitos".
Abraços.
- Uilson Carlos
Olá pessoal.
Primeiramente é preciso dizer que Capitalismo possui como uma de suas características o Comércio, mas não se limita a isso. O Comércio existe há milênios na História da Humanidade, só que as relações comerciais do Capitalismo Moderno, adquiriram características inéditas, e eu diria, muitas vezes desumanas.
O Anarquismo prega uma divisão, socialização das riquezas entre os homens e defende a ideia de que todos tenham a possibilidade de adquirir os meios básicos de sobrevivência, que todos trabalhem, e que os bens básicos necessários à sociedade, não sejam propriedade privada. Eu por exemplo, considero que uma das características mais desumanas do Capitalismo, é a ampliação do desemprego, que impede o acesso do homem à luta por sua melhoria de vida, lhe enobrece.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 16 - Não se Pode Servir a Deus e a Mamon - um dos tópicos comentados pelos Espíritos diz respeito a questão da Riqueza. A Riqueza é um Mal? Não. Como Espírita e como Anarquista eu também concordo com esse argumento dos Espíritos. O que é um mal é sua concentração nas mãos de poucos, e isso muitas vezes conseguido de forma ilícita, baseado na exploração do homem pelo homem.
A Riqueza do ponto de vista espírita serve de estímulo ao ser encarnado, possibilita-lhe maiores oportunidades de servir, mas é uma prova muito mais perigosa do que a pobreza, porque o rico tem maiores oportunidades devido ao dinheiro fácil, de também errar.
Nesse mesmo tópico porém, há um comentário sobre a Desigualdade das Riquezas que os espíritos dizem que existe por que os homens, com seus diferentes graus de inteligência, suas diferentes moderações para conservá-la e adquiri-la, disposições diferentes para o labor, ou seja, o trabalho, nos leva a concluir que a
Riqueza induz ao trabalho e desenvolvimento, além de Econômico, também intelectual, moral, etc. Numa comparação com o anarquismo, vemos que também nesse ponto, não há divergências pois o anarquista quer a socialização da riqueza, e um espírita transformado pelos ideais de Jesus,realmente não vai querer se prender, guardar suas riquezas só prá si.
Não há diferença de pensamento entre o que pensamos como anarquistas, e o que prega o Evangelho Segundo o Espiritismo nesse Capítulo, porém, esse é um livro do Século XIX, e de lá para cá, o mundo sofreu diversas crises Econômicas e para superá-las o Capitalismo tomou medidas desumanas, fatores determinantes da desigualdade.
Como espírita, penso que devo pratica a Caridade sim, material, que tem um cunho mais assistencialista, moral, e nesse ponto da Caridade moral, penso que é muito complicado nos colocarmos à margem da atuação política, que não é atuação partidária. Não é também uma caridade lutar por aqueles que sofrem criticando, conscientizando e tentando mudar as estruturas de poder político e social?
E como anarquista digo que não é acabar com a Riqueza a proposta Anarquista/Comunista, mas acabar com a desigualdade através da socialização da riqueza, que pode ser suprida por Estados riquíssimos como os EUA, e no caso do Brasil em particular, que cresceu muito economicamente desde o governo Fernando Henrique, crescimento esse que não provocou melhorias humanas de fato, na vida dos brasileiros, tendo em vista que o número de pessoas abaixo da linha da pobreza no Brasil ainda é imenso, ou seja, não tem acesso àquilo que a Declaração Universal caracteriza como Direitos Humanos.
Será que só por que os brasileiros, desde 1994 quando houve a implantação do Real, até os dias de hoje, em que se tem mais possibilidade comprar carros, televisores importados, computadores, enfim, que a sociedade passou a ter mais acesso aos bens de consumo geralmente financiados em várias prestações com juros altíssimos, podemos falar em melhorias de vida? É ambígua essa questão, porque há sem dúvida uma melhoria no bem estar pessoal, provocado pela aquisição desses objetos, mas o que nós, anaquistas/espíritas, não concordamos, é que a sociedade não tem tido acesso aos Direitos Humanos que, como diz Frei Betto, às vezes nem se trata de humanos, mas de Direitos animais, como comer, ter um local para se abrigar do frio, uma moradia adequada, isso é coisa de bicho, de animal, e todos parecem esquecer inclusive que o homem é um animal e precisa dessas necessidades básicas que o Estado não cria.
O Estado que só se preocupa com o aspecto econômico, não age com mais eficácia para suprir o ser humano em suas necessidades básicas como já dissemos, e é para isso que o Estado existe. Se ele não faz o que lhe é devido, qual a necessidade da existência do Estado? Se não há porém, condições morais para que o ser humano viva numa sociedade sem governo, como argumentam alguns, não devemos ao menos exigir sua transformação? Pedir que os governantes façam prioritárias as verdadeiras necessidades sociais?
Há espíritas e cristãos de diversas outras religiões que pensam e afirmam que essa desigualdade acontece porque Deus quer. Vejamos: Se Deus é Onisciente como o próprio Espiritismo ensina, Ele certamente sempre soube que os homens iriam explorar uns aos outros com leis trabalhistas injustas, salários baixos que não permitem ao chefe de família manter os seus, entre outras características tristes desse sistema. Mas Deus nos deu o livre arbítrio, e a partir do momento em que há a possibilidade de mudança, da sociedade dizer um NÃO a esse sistema desumano, é mesmo a vontade de Deus ou vontade dos homens manter essa situação cômoda para poucos, e desconfortável para a maioria? Eu penso que Deus quis nos dar liberdade quando nos deu livre arbítrio. Sendo assim, se Deus nos deu a liberdade, por que aprisionamos pessoas através de sistemas econômicos injustos? Isso que vemos creio eu, não pode ser vontade de Deus. Seria um paradoxo imenso.
O Capitalismo atual criou Leis baseadas numa teoria chamada Liberalismo Econômico, que reduz o poder do Estado, ou seja, o Estado se sujeitou a ser ferramenta de poucos poderosos que sustentam seus governantes, - pois o Estado em sí, é sustentado principalmente pelos impostos pagos pelos pobres sem poder -, criando leis absurdas aos mais pobres e beneficiando os mais ricos, donos do poder, se tornando assim um instrumento de sofrimento para os pobres. Um exemplo disso é a atuação do Estado na expulsão dos manifestantes de frente da Prefeitura de São Paulo, que protestavam contra o aumento da passagem de ônibus, que foi muito maior que o nível da inflação. Houve sim, um estudante que se acorrentou nas catracas da Prefeitura, mas o que a Imprensa não diz é que começou uma manifestação em apoio aos estudantes do lado de fora, de cidadãos que apenas passavam por ali, e se identificaram com a causa.
Mas nós não pregamos a revolução armada, que fique bem claro, e sim a conscientização. Não pregamos a violência, mas sim uma ação pacífica, que já ocorreu na História, como Gandhi fez na Índia e a libertou do poder opressor da Inglaterra. Gandhi agiu como um anarquista, ele não obedeceu às leis do Estado que explorava seu povo. O que o Estado quer, em qualquer lugar do mundo, é nos fazer comprar suas mercadorias, aumentando assim o crescimento do PIB de cada país, depois de nos fazer acreditar nas suas ideologias. Mas quem ganha com o aumento do PIB se há concentração de renda e ausência de desenvolvimento social?
Quanto às ideologias, uma das coisas que considero um crime atualmente, é dizer por exemplo a uma criança, que ela tem que estudar para ser alguém na vida. O que é ser alguém nessa sociedade contemporânea? É alcançar státus social? E aqueles que não alcançam por diversos fatores, se transformam em quê? Há um discurso hipócrita, sustentado pelas ideologias defendidas pelo Estado, uma mudança de valores que foram corrompidos pelo sistema que faz a sociedade pensar que dentro do mundo globalizado, para ser alguém, tem que ser bem sucedido, ter o carro mais bonito, a roupa de marca, enfim, tudo que o Espiritismo nega em suas afirmações Evangélicas. Ou será que Jesus disse o contrário disso? Jesus não viveu ao lado dos pobres, valorizando assim, suas condições humanas, fazendo-os se sentirem o que realmente são, filhos de Deus tanto quanto os ricos? Jesus não mostrou com suas atitudes, que o poder do mundo, sua riqueza, seu luxo, eram transitórios?
É CONTRADITÓRIO O DISCURSO PROPOSTO PELO CAPITAL E A DOUTRINA ESPÍRITA. Sendo assim, volto a perguntar aos espíritas: É vontade de Deus mesmo? Ou vontade de empresários capitalistas bem sucedidos e interesseiros, que financiam os políticos?
Pensem. Porém, não se esqueçam de alguns princípios básicos: o Anarquismo que defendemos, a partir de uma concepção cristã, - pois não somos ortodoxos seguidores de Bakunin, Proudhon, ou qualquer outro pensador anarquista, fazemos nossas teoria depois de analisarmos muito do que foi proposto, como muitos fizeram por exemplo, com o marxismo - , não é contra a riqueza, mas quer a socialização das riquezas, pois a concentração de renda é que gera a pobreza, as grandes nações pregam o Sistema Capitalista como sendo Democrático, contrário às Ditaduras dos países Comunistas, que como espíritas não podemos negar, nem eu como historiador, mas os erros de Stálin por exemplo, que também é um filho desse mesmo Deus que nós espíritas acreditamos, não desvalorizam os ideais Anarquistas/Comunistas, assim como a traição de Judas, a negação de Pedro, não desmereceram o trabalho evangélico feito pelos mesmos apóstolos que negaram Jesus, após sua Crucificação.
Espíritas e cristãos de uma maneira geral, há muito o que se mudar, há muito o que se pensar, e aqueles que consideram essa questão esgotada, pela realidade efetiva das coisas, como diria Maquiavel, talvez esteja precisando rever conceitos, antes que se tornem "Pré-Conceitos".
Abraços.
- Uilson Carlos
terça-feira, 15 de março de 2011
entrevista Leticia - Frei Betto
Frei Betto comenta a questão dos direitos humanos não estarem sendo respeitados, e foca com bastante ênfase, a injustiça que é o fato da presença de latifúndios no Brasil, onde 1% da população possui 44% das terras, num país de 850 milhões de hectares.
domingo, 13 de março de 2011
Relembrando um texto de Luiz Boiko
Olá pessoal.
Acabei de encontar um texto conciso, inteligente, que resume bem o nosso objetivo com esse blog. Vou publicá-lo novamente. Não é meu, é do meu amigo Luiz, e talvez seja bom para aqueles que querem algo mais simples, pois eu publiquei um com o mesmo tema, direcionado ao Paulo e aos outros amigos que estão começando a ter dúvidas em relação aos nossos objetivos, propostas, mas meus textos costumam ser muito detalhados, e por isso, grandes. Bem, espero que Luiz ajude-os em seus questionamentos, afinal, um de nosso objetivos é esse mesmo, questionar.
Um forte abraço,
Luiz Rodrigo
Acabei de encontar um texto conciso, inteligente, que resume bem o nosso objetivo com esse blog. Vou publicá-lo novamente. Não é meu, é do meu amigo Luiz, e talvez seja bom para aqueles que querem algo mais simples, pois eu publiquei um com o mesmo tema, direcionado ao Paulo e aos outros amigos que estão começando a ter dúvidas em relação aos nossos objetivos, propostas, mas meus textos costumam ser muito detalhados, e por isso, grandes. Bem, espero que Luiz ajude-os em seus questionamentos, afinal, um de nosso objetivos é esse mesmo, questionar.
Meu amigo Uilson e eu nos conhecemos de longa data, e nossa amizade sempre foi marcada por profundas reflexões sobre a vida, a arte, a religião, a sociedade, a política e muitos outros assuntos.
Devido à vida corrida de professores, nosso contato tem ocorrido constantemente no mundo virtual, e poucas vezes no mundo real. É através do telefone e da web que debatemos idéias e compartilhamos impressões, sempre buscando o esclarecimento mútuo e a difusão desse conhecimento entre nossos alunos e todos os que nos cercam.
Esse blog surgiu justamente da observação de que muito ainda temos que debater, conhecer, aprofundar, saber...e mais que isso, compartilhar, divulgar, somar, crescer !!!
E por que anarkodecista ???
Justamente porque em todas nossas reflexões, sempre esteve presente em nós uma inspiração nas correntes anarquistas. E mais que isso, sempre procuramos debater as questões sociais sob a ótica cristã kardecista, pois acreditamos que a revolução social só será possível após a revolução moral do ser humano.
Leia, opine, divulgue, critique !!! Pois como já dizia Paulo Freire: "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo".
Um forte abraço,
Luiz Rodrigo
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Espiritismo,
início,
Política
Explicações ao Paulo e aos outros amigos
Olá Pessoal.
Numa conversa interessante com meu amigo Paulo, do Centro Espírita Irmãos da Nova Era, muitas dúvidas foram colocadas por ele, de forma direta ou indireta, sobre qual a razão do nosso blog com essa temática, quais as nossas propostas, e é isso que vou tentar explicar agora, para tentar eliminar essas dúvidas do Paulo e de outros prováveis questionadores.
Bem, eu e o Luiz montamos esse blog depois de uma certa maturidade ideológica, digamos assim, ao menos pensávamos assim na época. Luiz sempre foi anarquista, eu era marxista e com o passar do tempo me tornei também um anarquista, e passamos a falar assim a mesma língua ideológica. Já falávamos porém, a mesma língua em relação a ideologia espiritual, pois somos, os dois, espíritas. Pensamos que no campo filosófico e moral, de todos os "ismos" ou "istas" que podemos ser, o mais importante é ser, antes de tudo, um "humanista", porque ver o que acontece na sociedade a nível intelectual, social, moral, ético, e não se comover, tem que ser alguém muito desumano, e é isso que tentamos não ser, pois estamos, enquanto espíritos encarnados, buscando um aprimoramento espiritual, mas na condição de humanos, e se estamos nessa condição, não cremos que seja um espírito evoluído aquele que se comporta com indiferença frente aos problemas sociais que passam muitas vezes pelo ideológico.
Daí montamos o blog com essa ideia. Somos cristãos, espíritas, mas também somos socialistas. Vemos e criticamos os erros e injustiças que o sistema capitalista provoca na sociedade, pois tem agido por meio da ideologia, da política, de algumas religiões, tradições, etc.
Mas por que Anarkodescita? É apenas um neologismo criado para designar o anarquista kardecista. Daí fazemos uma releitura do anarquismo, pois muitos anarquistas ortodoxos digamos assim, dizem que não se pode ser anarquista e religioso, crer num Deus Soberano, pois isso seria se submeter a um poder e iria ferir o princípio de liberdade individual e coletiva, pregada pelo anarquismo. Porém, não concordamos com essa visão. Assim como muitos marxistas fizeram releituras de Marx, surgindo o Leninismo, o Stalinismo, o Trotskismo, não seguimos à risca tudo que foi pregado por Bakunin por exemplo, Proudhon e muitos outros, pois não concordamos com tudo que eles falaram. Nós seguimos o Princípio da Dialética que propõe a Tese, a Antítese e a Conclusão. A nossa Conclusão é fruto da análise da Tese, da Antítese e daí chegamos ao pensamento final próprio.
Um professor que tive na época da faculdade me dizia que dificilmente uma teoria é totalmente descartável. O Anarquismo têm coisas que podem ser aproveitadas, o Marxismo, o Positivismo, e assim por diante. Eu por exemplo uso muito as teorias econômicas de Marx em minhas aulas e na sustentação de minhas próprias visões anarquistas de sociedade, até porque, por mais que os anarquistas que chamo de ortodoxos não concordem, o marxismo é no fundo, um anarquismo. O que difere o marxismo do anarquismo, é apenas a forma como os marxistas querem eliminar o Estado Burguês para implantar o Comunismo, ou seja, implantando um Estado Proletário, chamado de Ditadura do Proletariado (eu não gosto do nome) e partir para uma sociedade Comunista, sem Estados, sem fronteiras, baseada na igualdade, na liberdade, enfim....e os anarquistas querem acabar com o Estado Burguês e partirem direto para o Comunismo, ou seja, para a sociedade anárquica, sem Estado, sem fronteiras. Nesse sentido, penso que o marxismo tem mais coerência em seus métodos e argumentações. O problema todo que me afastou do marxismo é que na prática, os governantes de países Comunistas que se basearam no marxismo para fazerem Revoluções como URSS, Cuba, China, são déspotas, com governos ditatoriais, que até conseguiram realmente melhorias sociais, mas exercendo um poder próximo da tirania. Sendo assim, podemos concluir que do ponto de vista filosófico e sociológico, o marxismo é o melhor meio, afinal, não podemos desvalorizar a teoria por causa dos homens que se corrompem no poder, mas o Anarquismo é o objetivo final, ou seja, o Comunismo. Mas estou muito longe de concordar com Maquiavel de que "os fins justificam os meios", pois nessas revoluções já feitas contra o sistema capitalista, armadas, os fins não foram muito satisfatórios, tendo em vista que hoje em dia Cuba tem um nível social de vida bom, com excelente saúde, educação, mas ausência de liberdade. A China se diz Comunista mas com enorme concentração de renda, faz negociações com países capitalistas, e uma enorme desigualdade social impera naquele país.
E o cristianismo? O Espíritismo? Qual a relação do Espiritismo com tudo isso? Bem, analisar a vida de Jesus e querer ausentá-lo de lutas políticas, é analisar o texto sem levar em consideração o contexto no qual Ele viveu. Não devemos nos esquecer que na Palestina do século I, Religião e Política andavam juntos. Chefes de Sinagogas, eram também, chefes de Estado. No livro Paulo e Estêvão, Emmanuel diz que Saulo movimentava suas influências para prender Estevão e percebemos que o Estado não falava nada, porque o Estado era Teocrático, ou seja, suas Leis eram as da Sinagoga, serviam tanto à vida religiosa quanto à vida social, e o que era decidido na Sinagoga não podia ser contestado pelo povo. Os judeus também eram governados por um Estado ainda mais poderoso, o Império Romano, mas desde que fossem obedientes e pagassem em dia seus impostos, os romanos não se intrometiam nas crenças judaicas. Aliás, o povo judeu para os romanos era um povo estranho, que acreditava num só Deus, esperavam um Messias Libertador (no caso, até nós espíritas assim como católicos e protestantes, cremos que foi Jesus o Messias), enquanto eles romanos acreditavam em vários deuses, se achavam invencíveis devido a força de seu exército, entre outras diferenças.
O ponto em que o espiritismo se assemelha com o anarquismo, o marxismo, é exatamente o respeito à igualdade, à liberdade, à justiça. Daí, penso que pode haver sim, uma junção das duas doutrinas, a filosófica socialista, que luta por uma sociedade mais justa, e a espírita, que orienta como crescer espiritualmente, colaborando na construção dessa sociedade.
Jesus não veio com o discurso político, mas com uma atitude política em favor dos pobres, dos necessitados, lutando contra a desigualdade social, mandando sim dar a César o que era de César, pois um homem que falava do amor não podia pregar uma revolução, mas a sua vida já foi em sí a revolução que desestruturou o poderoso império romano, provocou cruzadas em seu nome, guerras entre católicos e protestantes na Irlanda. Como dizer que os ensinamentos de Jesus estão desvinculados da política? Ele desestabiliza o Sistema Capitalista por pregar um amor que queira a Igualdade, e isso no mundo Globalizado incomoda. Jesus ensinou tudo o que Marx ensinou, só que Marx falou na linguagem da economia, Jesus falou e viveu na linguagem do amor. Mas os dois viram que um sistema que só pensa no lucro, com desculpas muitas vezes patéticas como a da geração de empregos, que podem também ser gerados numa sociedade menos desigual, que cuida dos seus velhos, das suas crianças, que respeita o negro, a prostituta, o pobre.
Enfim Paulo, e meus outros queridos amigos, espero que esse breve esboço tenha servido para explicar onde queremos chegar, qual a nossa proposta. Não pregamos nada diferente daquilo que se prega nos centros através dos Evangelhos, mas o mundo evoluiu, as tecnologias proporcionaram a diminuição das distâncias, do tempo, e o mundo é Globalizado, e atualmente só pensa em economia. É preciso haver alguém que pregue o amor de Jesus aos alienados, aos executivos preocupados com lucros, aos intelectuais revoltados com o sistema e que passam a não acreditar em mais nada, e é isso que estamos fazendo, eu e meu amigo Luiz através de Anarkodecista. Queremos completar e não separar. Não porque pensemos que o espiritismo precise de uma completude que será trazida por nós. Não, nada disso. Mas por saber que as pessoas da Era Globalizada falam várias linguagens diferentes, e atualmente para se falar de Jesus com muita gente, não podemos deixar de usar o discurso econômico e político. Basta ver que na Líbia o mundo tá desmoronando e a preocupação do mercado interncional é com ó preço do barril de petróleo. Juntem-se a nós, serão muito bem vindos.
Deus abençoe à todos.
- Uilson Carlos
Numa conversa interessante com meu amigo Paulo, do Centro Espírita Irmãos da Nova Era, muitas dúvidas foram colocadas por ele, de forma direta ou indireta, sobre qual a razão do nosso blog com essa temática, quais as nossas propostas, e é isso que vou tentar explicar agora, para tentar eliminar essas dúvidas do Paulo e de outros prováveis questionadores.
Bem, eu e o Luiz montamos esse blog depois de uma certa maturidade ideológica, digamos assim, ao menos pensávamos assim na época. Luiz sempre foi anarquista, eu era marxista e com o passar do tempo me tornei também um anarquista, e passamos a falar assim a mesma língua ideológica. Já falávamos porém, a mesma língua em relação a ideologia espiritual, pois somos, os dois, espíritas. Pensamos que no campo filosófico e moral, de todos os "ismos" ou "istas" que podemos ser, o mais importante é ser, antes de tudo, um "humanista", porque ver o que acontece na sociedade a nível intelectual, social, moral, ético, e não se comover, tem que ser alguém muito desumano, e é isso que tentamos não ser, pois estamos, enquanto espíritos encarnados, buscando um aprimoramento espiritual, mas na condição de humanos, e se estamos nessa condição, não cremos que seja um espírito evoluído aquele que se comporta com indiferença frente aos problemas sociais que passam muitas vezes pelo ideológico.
Daí montamos o blog com essa ideia. Somos cristãos, espíritas, mas também somos socialistas. Vemos e criticamos os erros e injustiças que o sistema capitalista provoca na sociedade, pois tem agido por meio da ideologia, da política, de algumas religiões, tradições, etc.
Mas por que Anarkodescita? É apenas um neologismo criado para designar o anarquista kardecista. Daí fazemos uma releitura do anarquismo, pois muitos anarquistas ortodoxos digamos assim, dizem que não se pode ser anarquista e religioso, crer num Deus Soberano, pois isso seria se submeter a um poder e iria ferir o princípio de liberdade individual e coletiva, pregada pelo anarquismo. Porém, não concordamos com essa visão. Assim como muitos marxistas fizeram releituras de Marx, surgindo o Leninismo, o Stalinismo, o Trotskismo, não seguimos à risca tudo que foi pregado por Bakunin por exemplo, Proudhon e muitos outros, pois não concordamos com tudo que eles falaram. Nós seguimos o Princípio da Dialética que propõe a Tese, a Antítese e a Conclusão. A nossa Conclusão é fruto da análise da Tese, da Antítese e daí chegamos ao pensamento final próprio.
Um professor que tive na época da faculdade me dizia que dificilmente uma teoria é totalmente descartável. O Anarquismo têm coisas que podem ser aproveitadas, o Marxismo, o Positivismo, e assim por diante. Eu por exemplo uso muito as teorias econômicas de Marx em minhas aulas e na sustentação de minhas próprias visões anarquistas de sociedade, até porque, por mais que os anarquistas que chamo de ortodoxos não concordem, o marxismo é no fundo, um anarquismo. O que difere o marxismo do anarquismo, é apenas a forma como os marxistas querem eliminar o Estado Burguês para implantar o Comunismo, ou seja, implantando um Estado Proletário, chamado de Ditadura do Proletariado (eu não gosto do nome) e partir para uma sociedade Comunista, sem Estados, sem fronteiras, baseada na igualdade, na liberdade, enfim....e os anarquistas querem acabar com o Estado Burguês e partirem direto para o Comunismo, ou seja, para a sociedade anárquica, sem Estado, sem fronteiras. Nesse sentido, penso que o marxismo tem mais coerência em seus métodos e argumentações. O problema todo que me afastou do marxismo é que na prática, os governantes de países Comunistas que se basearam no marxismo para fazerem Revoluções como URSS, Cuba, China, são déspotas, com governos ditatoriais, que até conseguiram realmente melhorias sociais, mas exercendo um poder próximo da tirania. Sendo assim, podemos concluir que do ponto de vista filosófico e sociológico, o marxismo é o melhor meio, afinal, não podemos desvalorizar a teoria por causa dos homens que se corrompem no poder, mas o Anarquismo é o objetivo final, ou seja, o Comunismo. Mas estou muito longe de concordar com Maquiavel de que "os fins justificam os meios", pois nessas revoluções já feitas contra o sistema capitalista, armadas, os fins não foram muito satisfatórios, tendo em vista que hoje em dia Cuba tem um nível social de vida bom, com excelente saúde, educação, mas ausência de liberdade. A China se diz Comunista mas com enorme concentração de renda, faz negociações com países capitalistas, e uma enorme desigualdade social impera naquele país.
E o cristianismo? O Espíritismo? Qual a relação do Espiritismo com tudo isso? Bem, analisar a vida de Jesus e querer ausentá-lo de lutas políticas, é analisar o texto sem levar em consideração o contexto no qual Ele viveu. Não devemos nos esquecer que na Palestina do século I, Religião e Política andavam juntos. Chefes de Sinagogas, eram também, chefes de Estado. No livro Paulo e Estêvão, Emmanuel diz que Saulo movimentava suas influências para prender Estevão e percebemos que o Estado não falava nada, porque o Estado era Teocrático, ou seja, suas Leis eram as da Sinagoga, serviam tanto à vida religiosa quanto à vida social, e o que era decidido na Sinagoga não podia ser contestado pelo povo. Os judeus também eram governados por um Estado ainda mais poderoso, o Império Romano, mas desde que fossem obedientes e pagassem em dia seus impostos, os romanos não se intrometiam nas crenças judaicas. Aliás, o povo judeu para os romanos era um povo estranho, que acreditava num só Deus, esperavam um Messias Libertador (no caso, até nós espíritas assim como católicos e protestantes, cremos que foi Jesus o Messias), enquanto eles romanos acreditavam em vários deuses, se achavam invencíveis devido a força de seu exército, entre outras diferenças.
O ponto em que o espiritismo se assemelha com o anarquismo, o marxismo, é exatamente o respeito à igualdade, à liberdade, à justiça. Daí, penso que pode haver sim, uma junção das duas doutrinas, a filosófica socialista, que luta por uma sociedade mais justa, e a espírita, que orienta como crescer espiritualmente, colaborando na construção dessa sociedade.
Jesus não veio com o discurso político, mas com uma atitude política em favor dos pobres, dos necessitados, lutando contra a desigualdade social, mandando sim dar a César o que era de César, pois um homem que falava do amor não podia pregar uma revolução, mas a sua vida já foi em sí a revolução que desestruturou o poderoso império romano, provocou cruzadas em seu nome, guerras entre católicos e protestantes na Irlanda. Como dizer que os ensinamentos de Jesus estão desvinculados da política? Ele desestabiliza o Sistema Capitalista por pregar um amor que queira a Igualdade, e isso no mundo Globalizado incomoda. Jesus ensinou tudo o que Marx ensinou, só que Marx falou na linguagem da economia, Jesus falou e viveu na linguagem do amor. Mas os dois viram que um sistema que só pensa no lucro, com desculpas muitas vezes patéticas como a da geração de empregos, que podem também ser gerados numa sociedade menos desigual, que cuida dos seus velhos, das suas crianças, que respeita o negro, a prostituta, o pobre.
Enfim Paulo, e meus outros queridos amigos, espero que esse breve esboço tenha servido para explicar onde queremos chegar, qual a nossa proposta. Não pregamos nada diferente daquilo que se prega nos centros através dos Evangelhos, mas o mundo evoluiu, as tecnologias proporcionaram a diminuição das distâncias, do tempo, e o mundo é Globalizado, e atualmente só pensa em economia. É preciso haver alguém que pregue o amor de Jesus aos alienados, aos executivos preocupados com lucros, aos intelectuais revoltados com o sistema e que passam a não acreditar em mais nada, e é isso que estamos fazendo, eu e meu amigo Luiz através de Anarkodecista. Queremos completar e não separar. Não porque pensemos que o espiritismo precise de uma completude que será trazida por nós. Não, nada disso. Mas por saber que as pessoas da Era Globalizada falam várias linguagens diferentes, e atualmente para se falar de Jesus com muita gente, não podemos deixar de usar o discurso econômico e político. Basta ver que na Líbia o mundo tá desmoronando e a preocupação do mercado interncional é com ó preço do barril de petróleo. Juntem-se a nós, serão muito bem vindos.
Deus abençoe à todos.
- Uilson Carlos
sábado, 12 de março de 2011
Mario Sergio Cortella no Festival de Política
Cortella comenta a necessidade de união da sociedade para a superação da desigualdade social, sobre o Estado dever servir e não se servir e também sobre a importância de se aproveitar o tempo, como ferramenta de aprendizado, evolução e felicidade.
Abraços!
- Uilson Carlos
Abraços!
- Uilson Carlos
quarta-feira, 9 de março de 2011
A verdade sobre o carnaval !
Uma reflexão concisa, contundente e realista sobre a "festa" brasileira !
Abraços,
Luiz
Luiz
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